A reforma da Igreja - e particularmente da Cúria Romana - que o cardeal Jorge Mario Bergoglio, com outros cardeais, defendeu nas Congregações gerais antes do Conclave, que ditaria a sua eleição como Papa, tem agora forma de letra. Precisamente no dia em que se comemoraram os nove anos do início solene do seu ministério, no passado dia 19, o Papa Francisco publicou a Constituição Apostólica "Praedicate evangelium" (Pregai o Evangelho).
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O título e o conteúdo vincam essa primordial missão confiada por Jesus aos seus discípulos: Evangelizar. Algo que todos sabem, mas que tantas vezes é descurado nos mais diversos setores da Igreja e, também, na Cúria. Por isso o Papa viu-se obrigado a recordá-lo - e conjugá-lo com o "espírito de serviço".
A renovação da Cúria Romana passa necessariamente por uma "conversão missionária" dos seus organismos e dos que neles trabalham. Todos aqueles que venham a ser escolhidos para integrar a Cúria devem distinguir-se pela "vida espiritual, boa experiência pastoral, sobriedade de vida e amor aos pobres, espírito de comunhão e de serviço, competência nos assuntos que são confiados, capacidade de discernir os sinais dos tempos".
Colocar o acento nestes critérios para a escolha dos curiais é uma das maiores virtualidades deste documento. Mas configura, também, uma das maiores dificuldades em implementá-lo.
Todas a características agora exigidas são difíceis de verificar e facilmente disfarçáveis. A não ser que passem a ser exigidas e escrutinadas desde as comunidades de base, passando pelos seminários e outras estruturas formativas, até ao processo de ordenação de diáconos, presbíteros e bispos.
O documento propõe, também, formas de cercear o "carreirismo eclesiástico", como a limitação a cinco anos do período de serviço na Cúria, excecionalmente renovável por mais cinco. Mas as mudanças só serão eficazes se, de facto, o modo padrão de exercer todo o encargo pastoral não possa passar por afirmações de poder ou em benefício próprio. O padrão terá de ser o serviço ao outro, particularmente aos "mais débeis, doentes e sofredores", como afirma o Papa.
Padre