1Se há tema recorrente na oposição política portuguesa é o da Regionalização. Recorrente porque acaba metida na gaveta sempre que a oposição se transforma em situação. O que não impede que, de cada vez que se aproximam eleições, alguém remexa o velho baú das ideias que ficam bem a enfeitar programas eleitorais, mas que não são para cumprir. O exemplo mais recente foi o do PSD, partido que tinha no programa eleitoral de 2011, é bom lembrar, a divisão do país em regiões. Com uma nota de excentricidade, uma vez que a proposta era acompanhada da explicação (a crise) para a não aplicar.
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A um ano de novas eleições, e porventura para que o não acusem de falta de ideias, António Costa, putativo primeiro-ministro, já foi ao tal baú sacar o tema. Também ele, no entanto, lhe acrescenta uma nota de excentricidade: desta vez propõe uma espécie de Regionalização indireta (e envergonhada), em que um colégio eleitoral de autarcas trataria de escolher o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional. É melhor que nada, suspiram os mais convictos socialistas e regionalistas. Na verdade, é pior que nada. Não é mais do que um sinal de desistência antecipado, semelhante ao do PSD em 2011. Num tempo em que a cidadania exige mais participação, e em que a tecnologia a permite, o PS propõe-se colocar uma série de eminências pardas municipais (Apenas os presidentes de Câmara? Os deputados das assembleias municipais? Estes todos mais os membros das juntas de freguesia?) a servirem de intérpretes da vontade do cidadão. Se é para matar de vez a Regionalização, é um bom caminho.
2 A Espanha enfrenta um "tsunami político". O partido Podemos (com génese no movimento de indignados) conseguiu um feito histórico: está à frente numa sondagem, com 27,7%. É verdade que, mesmo sendo a primeira vez, é um feito virtual. Mas convém lembrar que a política espanhola estava, até às últimas eleições nacionais, solidamente ancorada no bipartidarismo. A soma de votos dos dois partidos do centro, PP e PSOE, chegava quase sempre aos 80%, mesmo quando já era maioritária a votação nos partidos nacionalistas no País Basco e na Catalunha. Na sondagem ontem publicada pelo jornal "El País", a soma dos dois partidos do centrão baixa para 47%, com o Podemos alimentado pelos recentes escândalos de corrupção.
O êxito do Podemos (formado há oito meses, conseguiu um resultado surpreendente nas eleições europeias) é encarado pelos analistas mais afins ao sistema como a tradução do fracasso dos partidos tradicionais, mas alicerçado em "simples e vulgar populismo", que comparam, por exemplo, ao fenómeno da Frente Nacional, em França. Para outros, é uma nova versão do voto útil, "nada resignada ou especulativa, antes combativa e radical". Seja como for, um tsunami que promete refundar o sistema partidário espanhol.