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Apalavra forte do discurso do presidente da República é oportuna. Temos todos de fazer um esforço para nos reinventarmos. Em primeiro lugar, reinventando uma capacidade de análise séria e uma exigência redobrada sobre aquilo que nos dizem.
E apesar do simplismo com que Marcelo Rebelo de Sousa nos colocou entre o Paraíso e o Inferno, vale a pena perceber que é no Purgatório onde quase sempre nos encontramos.
Podemos sair mas temos de nos esforçar para conhecer o caminho.
Ora a situação política portuguesa é complexa e tende a manter-se sem grande espaço para ideias claras ou melhorias concretas sobretudo daquelas que precisam de vários anos para se implementarem.
A solução governativa encontrada após as legislativas interessa a quem não quer oposição à Esquerda.
O PS governa sem oposição nas ruas e o PR mantém a sua popularidade sem mancha de protestos.
O alinhamento é cuidadosamente mantido com direito a uma ou outra crítica logo "zerada".
O que foram afinal os comentários do PR ao discurso de Natal do PM senão uma espécie de reconciliação política para o povo ver?
O PS tem, por seu lado, a situação controlada, o que não é mau, mas com pouca margem de manobra para reformas de fundo. Porque a "coligação" não resiste e porque não tem condições para criar entendimentos à Direita.
O PSD faz falta a Marcelo Rebelo de Sousa porque o deixa sem protagonista para a necessária oposição político-partidária do dia a dia.
E faz, naturalmente, falta ao sistema, anda mais entregue ao tripé das esquerdas.
O pior é que gerará certamente um líder de transição com poucas hipóteses de ter influência séria.
O lastro da ação governativa de Santana Lopes permitirá que lhe arremessam permanentemente o seu alegado défice de credibilidade, e Rui Rio tem demasiados oponentes para poder emergir em paz se ganhar as eleições.
Ficamos nós e a necessidade imperativa de nos reinventarmos:
- Em cidadãos mais conhecedores.
- Em observadores mais qualificados.
- Em contribuintes mais exigentes.
- Em eleitores mais rigorosos.
- Em trabalhadores mais empenhados.
- Em comunidades mais vivas e atuantes.
Sem nos deixarmos comover por um discurso político tantas vezes encenado ou por uma discussão pública demasiadas vezes populista.
Fazendo ver, pelo exemplo, que a dor exige respeito e empenho continuado e que todos preferimos um ponto de situação sério e objetivo de tempos a tempos a uma invasão omnipresente de abraços.
ANALISTA FINANCEIRA