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Um dos méritos da Jornada Mundial da Juventude é o de colocar em contacto cara a cara milhares de pessoas, mesmo que estas acabem por se subdividir em grupos. Numa época em que as relações são crescentemente virtuais devido às redes sociais, é sempre positivo que o mundo físico, mais real, ganhe alguma preponderância. “Muitos hoje sabem o teu nome, mas não te chamam pelo nome”, afirmou o Papa Francisco, como ponto de partida para uma crítica cáustica às redes sociais, “supérfluas”, que “deixam o vazio interior”.
Apesar de a qualidade do real se sobrepor ao virtual no plano das relações humanas, não deixa de ser curioso constatar que a Igreja já sente alguma pressão dos novos ventos da comunicação. “Hoje, a questão já não é se vamos ou não interagir com a cultura digital, porque isso se converteu num facto irreversível. O ponto é ‘saber fazê-lo’”, disse, esta quinta-feira, o cardeal Tolentino Mendonça na missa celebrada na Universidade Católica. “Temos de aprender a reconhecer o nosso próximo, inclusivamente o nosso próximo digital”, acrescentou. Ou seja, mais vale algum tipo de relação do que a sua inexistência.
Os tempos de transição levantam-nos sempre dúvidas. Estaremos perante uma moda ou face a uma mudança irreversível nas formas de interação humana? Independentemente de a posição de Tolentino Mendonça parecer divergir da veiculada pelo próprio Papa, a verdade é que a Igreja não tem nem nunca terá certezas sobre o caminho a trilhar. O sociólogo espanhol Manuel Castellis acredita no caráter construtivo das relações proporcionado pelas redes. No fundo, tudo o que é virtualmente construído entre seres humanos tem hipótese de ter um reflexo no mundo físico. O norte-americano Noam Chomsky, tal como o Papa, tem a opinião diametralmente oposta. Na dúvida, aproveitemos as jornadas desta vida.