Hoje é o dia em que escrevo, mas transforma-se em ontem para quem ler estas palavras, acaso o faça no domingo, dia 27 de outubro de 2024. Levando no lombo trinta e tal anos disto, mal seria se o não soubesse. Escrever “ontem” quando relatamos acontecimentos de “hoje” é o bê-á-bá dos jornais diários.
Ora, ontem foi dia de encontros inesperados, daqueles que nos fazem pensar, se nada mais útil tivermos para fazer. De manhã, encontrei um colega de turma, que não via desde os bancos da escola secundária. Viu-me e reconheceu-me, chamou-me pelo nome, e eu, milagrosamente, identifiquei-o e tratei-o sem hesitação na mesma medida (tem acontecido fazer figura de urso por não me lembrar de pessoas). Pela mão levava uma criança e disse: “Vou com a minha neta à natação”. À tarde, noutro espaço, encontrei uma senhora de idade bem mais avançada e com o seu quê de gaiteirice, que, sempre que me vê, dá ares de eu ser o Paul Newman quando novo (deve também ser pitosga).
É improvável que Albert Einstein se tenha lembrado da Teoria da Relatividade Restrita ao vivenciar episódios deste género, mas os meus encontros remeteram-me para a ideia de que o tempo muda de acordo com quem o observa, mais lento para quem se move, mais rápido para quem não sai do sítio. Enfim, a história do filme “Interstellar”, de Christopher Nolan, em que a personagem de Matthew McConaughey viaja à velocidade da luz, ou coisa que o valha, e regressa a casa para encontrar, idosa e no leito de morte, a filha que deixara em criança. Está tudo ligado. Eu, que não tenho filhos, pasmo ao ver como avô um colega que ainda ontem estava comigo nas aulas do liceu. A velha gaiteira que me vê na flor da idade, já o sabemos, deve ser pitosga.
Podemos parafrasear a relatividade, associando-a às leituras que se fazem da atualidade, geralmente formuladas a partir de um exclusivo ponto de vista. Por exemplo, a ação que os tumultos da região de Lisboa convoca não pode focar-se exclusivamente na integração (Esquerda) nem na repressão (Direita). Sendo certo que nada disso iliba quem mata, seja polícia ou bandido, tanto importa combater a marginalização e a guetização como entender que as forças de segurança são um bem essencial e não um mal necessário.

