Os incêndios são o mais velho conto de verão. Fazem parte dos dias quentes, das férias. Banalizam-se. Até ao momento em que nos entram pela casa dentro, e nos revelam toda a sua tragédia, castigando um país assimétrico, litoralizado, enfeudado na resignação.
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Todos os anos se fala em prevenção. Todos os anos se anunciam medidas. Todos os anos, todos, falhamos. Pedrógão marcou e moldou de tal modo as consciências que se acreditou. Tinha de ser. Somaram-se polémicas: com o SIRESP, com as limpezas das matas e as multas, com a falta de meios, com a falta de culpados e de políticas.
Passados cinco anos, estamos igual. Com populações ameaçadas, casas ardidas, a iminência de tragédias maiores. Estas condições adversas extremas são anormais, mas ainda assim esperadas face às transformações climáticas.
O que falta? Tudo, desde sempre. Não há organização ou ordenamento florestal que resistam face a dias sucessivos com temperaturas avassaladoras, vento, número elevado de fogos em simultâneo, mãos criminosas, falta de cuidado de todos.
Mas é exatamente por isso que é preciso cada vez mais investimento em segurança das populações, evitando que programas como o Aldeia Segura fiquem a meio do caminho, sem meios, sem técnicos, encravados na inoperância.
Os números e os factos, apenas deste exemplo. Três anos e meio após a criação do programa "Aldeia Segura, Pessoas Seguras", escreveu há bem pouco tempo o JN, 2233 aglomerados rurais estavam envolvidos em medidas de proteção contra o fogo, mas só 858 possuíam planos de evacuação e muitas áreas prioritárias estavam fora.
Não há ordem para arregaçar as mangas que vença a inércia. E no final do verão sobram as cinzas, sempre as cinzas. E a dor.
*Diretor-Geral Editorial