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Rui Rio, em nome da Junta Metropolitana a que preside, indicou um administrador para a empresa Metro do Porto em relação ao qual a Comissão de Recrutamento e Seleção da Administração Pública (CRESAP) levantou reservas. Aliás, a comissão levantou reservas também a outro nome, esse indicado pelo Governo.
O presidente da CRESAP já esclareceu o quadro em que essas reservas foram manifestadas. A saber: apesar dos ministérios da Economia e das Finanças terem estado de acordo para não incluir empresas com formato jurídico de sociedades anónimas entre as que necessitariam de submeter os propostos administradores a avaliação, o Governo pediu à CRESAP que o fizesse para a Metro do Porto como garantia de total transparência.
A primeira conclusão que se pode tirar é a de que, doravante, a CRESAP terá de ser chamada a validar toda e qualquer proposta de nomeação para cargos de administração no Setor Empresarial do Estado e ainda nas empresas comummente designadas por mistas em que o Estado tenha participação e administrador indicado pelo Governo.
Se assim for, acredito que a Administração Pública possa reganhar paulatinamente a credibilidade que perdeu em grande parte pelo facto de a maioria dos portugueses terem razões de sobejo para pensar que os cartões partidários valiam mais que as competências na atribuição de cargos da Função Pública.
A segunda conclusão que se pode tirar é que a recém-criada CRESAP avaliou os nomes indicados sem olhar a quem: tanto lhe fez que a indicação viesse da Junta Metropolitana ou do Governo.
E esta é outra boa notícia, porque estávamos habitados a que este tipo de comissões olhasse menos aos currículos técnicos dos propostos e mais aos currículos políticos dos proponentes.
A má notícia é que continuamos na mesma quanto à relação da política com as competências técnicas que a devem servir. Isso mesmo ficou patente quando Rui Rio resolveu mandar às malvas as avaliações da CRESAP e lançou uma verdadeira atoarda política dizendo-se conhecedor de interferências de membros do Governo para neutralizar as escolhas feitas e colocar problemas ao ministro da Economia.
Outra má notícia é que está a tornar-se muito difícil à política e ao jornalismo viverem sem Miguel Relvas. O ministro dos Assuntos Parlamentares"está transformado em chave-inglesa, aquela ferramenta que faz girar qualquer porca ou parafuso por mais perros que estejam. Desta vez, deu jeito a Rui Rio que passasse para a opinião pública a ideia de que Miguel Relvas foi a chave-inglesa de Luís Filipe Menezes contra a escolha que apresentou para a Metro do Porto.
Difícil, muito difícil, seria que Rio aceitasse que a sua escolha fosse chumbada por falta de qualidade.