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A reflexão sobre o futuro da ciência e da inovação na Europa ganha outra dimensão com a vitória de Donald Trump para um novo mandato na Casa Branca. A ser adotada a autarcia anunciada na campanha presidencial, a Europa vai ter de esforçar-se para diminuir a dependência dos EUA em defesa e tecnologia.
O fosso entre a Europa e as principais superpotências mundiais está expresso no relatório Draghi sobre a competitividade europeia, que defende mais investimento em ciência e inovação. Esta visão reforça a posição de Enrico Letta, que, num outro estudo sobre o mercado único, defende uma quinta liberdade: a liberdade de “inovar” (as quatro liberdades clássicas do mercado único são a livre circulação de bens, serviços, capitais e pessoas.). Fortalecer a educação, a investigação e a inovação é essencial para aumentar a inovação do mercado único no contexto global, impulsionar o crescimento económico e realizar as transições ecológica e digital.
A aposta na competitividade via inovação empresarial é destacada no recente relatório de um grupo de peritos sobre o futuro da ciência na Europa, coordenado por Manuel Heitor. Nele se refere que outros países e regiões estão a aumentar a capacidade em investigação e inovação, enquanto a Europa está a ficar para trás em investimento e em impacto da investigação e inovação.
Entre diversas recomendações, de sublinhar o reforço de investimento em ciência, a criação de dois corpos independentes, para a tecnologia e para os desafios da sociedade, e a simplificação dos mecanismos de financiamento.
Esta reflexão ganha uma dimensão crítica com a mudança a breve prazo da política americana, podendo transformar uma ameaça numa oportunidade, nomeadamente atraindo investigadores dos EUA e reforçando o ecossistema europeu de ciência e inovação.
É indispensável uma visão, uma estratégia e mais ação da União Europeia como um todo e dos seus estados-membros.