<p>Uma greve geral tem sempre objectivos políticos. É evidentemente diferente na forma e no conteúdo de uma greve de um sector profissional ou de uma empresa. A diferença fundamental está desta ter exclusivamente objectivos políticos. Talvez por isso muitos vieram explicar que a greve geral foi positiva pelo simples facto de se ter tratado de um escape ao desespero, à latente indignação, e uma forma organizada de manifestação que, diziam, impedirá extremismos de desespero que se têm visto noutros países europeus, como a Grécia ou mesmo a França. Neste caso, com os estudantes liceais provocando distúrbios com o objectivo de impedir a aprovação da lei que sobe dois anos a idade de reforma!</p>
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Sendo certo que a greve geral ocorre no momento em que é impossível - e vai ser por muitos meses - mudar de Governo por razões constitucionais, é natural que se questione o sentido de uma greve geral. Nem se pode dizer que os portugueses ficassem mais contentes, se não podendo cair o Governo, caíssem ao menos alguns ministros, porque todos sabemos que isso não adianta nada, nem melhora coisíssima nenhuma. A imagem das televisões na noite da greve com dirigentes sindicais gastos por 20 anos das mesmas palavras de ordem, com os mesmos rostos, passava um país derrotado pelo beco em que se encontra, ali retratado na imagem de vazio de uma greve geral. Mas o facto de, nessa mesma noite, o primeiro-ministro ter optado pelo silêncio face a uma greve política, deixando aos outros todas as ilações, não pode deixar de ser lido como uma atitude de desistência num país cansado e indignado.
Dois dias depois da greve geral, a Assembleia da República aprovou o Orçamento do Estado com as mais duras medidas restritivas, com consequências sociais gravíssimas, desde há 20 anos. Não se podia fazer outra coisa e o PSD tinha de viabilizar o Orçamento do Governo PS porque não havia qualquer outra hipótese. E os portugueses sabem disso. E sabem bem, acho que ninguém duvida, que este Governo não é capaz de controlar a execução orçamental e que caminhamos dia-a-dia para uma situação pior, com consequências sociais terríveis que terminarão na receita inevitável do FMI (redução drástica e cega dos trabalhadores da Administração Pública, redução salarial e tudo o mais que já fizeram na Grécia e na Irlanda). Nestes momentos, a greve é uma importante arma dos trabalhadores para que, na onda das restrições orçamentais, não se cometam barbaridades contra os mais frágeis e necessitados e desprotegidos. Nestes dias em que se pressente o perigo de pisar quem menos merece, a greve é, muitas vezes, uma arma importante e decisiva nas mãos de quem trabalha. Por isso, é sempre um último recurso, a usar apenas quando não há outras formas de luta e quando o que se pode ganhar é mais importante do que o que se perde.
Greve geral? Para quê? A única sensação que deixou foi a de um requiem a um tempo que passou.