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Não faço ideia do que é a guerra - espero nunca saber - e sempre me fez impressão a estranha atração por essa trágica condição da vivência humana, a concretização sistemática e organizada da violência para a destruição de outros. Ainda menos o fascínio pessoal que muitos sentem pela participação num conflito real. Escolher essa emoção, a de estar em batalha e em permanente risco de vida, sem qualquer outra motivação pessoal para além da procura repetida dessa (para mim) incompreensível excitação, é um dos mistérios mais fundos do comportamento humano, que nem livros e filmes documentais como "War" e "Restrepo", ambos de Sebastian Junger, ou filmes de ficção como "The Hurt Locker", de Kathryn Bigelow, me ajudaram a perceber.
Tenho porém muito respeito pela resistência ao terrível medo da guerra e da sua aleatória devastação. Da violência gratuita. Durante o cerco a Estalinegrado, a fome era tanta e frio tão forte, que havia quem desistisse de enterrar os seus mortos. Deixavam-nos junto ao cemitério, amontoados. Londres sobreviveu a 57 dias seguidos de bombardeamentos alemães. O Bem resistiu a isto e a muito pior. E isso, por muito difícil que nos pareça, é estranhamente reconfortante.
*JORNALISTA