A 4 de novembro, quando anunciou a dissolução do Parlamento e a data para a ida dos eleitores às urnas, o presidente da República recordou que, perante a crise política aberta pelo chumbo do Orçamento, era tempo de devolver a palavra aos portugueses. Há sempre quem não se reveja nas soluções que o sistema apresenta, quem se sinta desencantado, quem desista de exercer o seu direito de voto. Desistir, contudo, é abdicar de ter voz. A voz que ditará o futuro a trilhar.
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A palavra crise é demasiado frequente no nosso discurso coletivo, quase como um fado de que não conseguimos desapegar-nos. Os sinais ambíguos da pandemia mantêm o clima de incerteza que tem caracterizado os últimos dois anos. Anuncia-se a passagem à fase endémica, mas há ainda muita dissonância na forma de fazer a transição. Aguarda-se um novo fôlego económico, mas é preciso um rumo claro para a recuperação, capitalizando a oportunidade aberta pelos milhões do Plano de Resiliência e operacionalizando as apostas certas.
É natural que muitos portugueses não quisessem esta crise política, mas esse capítulo está encerrado. Há um tempo para tudo e este é o das escolhas. Amanhã será o de começar a arregaçar as mangas e trabalhar no tanto que há para fazer. A viragem de página ou a tão pedida reinvenção do país não se fazem por magia, nem por desejo ingénuo. Exigem ação concertada e corajosa de todos os que, nos vários órgãos decisores, têm o poder de colocar Portugal num ritmo de desenvolvimento que nos reaproxime da Europa.
Não adianta temer pântanos, berbicachos ou impasses. Recuperando de novo Marcelo Rebelo de Sousa, que terá um papel decisivo quanto ao que se segue, "há sempre uma solução em democracia". Hoje à noite, estará escolhida a composição do próximo Parlamento. E resta-lhe saber ouvir e respeitar a vontade dos portugueses. É essa a única solução possível.
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