<p>O PSD anunciou, ontem, a abstenção na votação do Orçamento do Estado (OE) para 2010. Não é que Ferreira Leite esteja totalmente convencida, longe disso, de que o documento serve os interesses do país. Mas como, na opinião da líder social-democrata, o fundamental é passar um sinal de estabilidade para os mercados internacionais, o PSD vai abster-se, viabilizando assim o OE. Verdade que Ferreira Leite reconheceu ter o Governo assumido alguns (importantes) compromissos rumo à estabilidade financeira, mas foi o medo de que os mercados internacionais olhassem para Portugal como olham para a Grécia que a levou a abster-se.</p>
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Isto é um exemplo de responsabilidade política ou de contabilidade política? É as duas coisas. O que a líder do PSD diz sobre os mercados internacionais é verdade: o sinal de que o Governo será capaz de controlar o défice e a dívida externa dá-nos alguma margem de manobra e afasta-nos da tragédia grega. Para isso a estabilidade política é decisiva.
Sucede, porém, que, ao não votar favoravelmente o OE, Ferreira Leite está a dizer que, caso as coisas corram mal (isto é: caso o Governo se desvie dos compromissos assumidos), o PSD estará disposto a usar os instrumentos que tem à mão (uma moção de censura, por exemplo) para fazer abanar o Executivo de Sócrates. Como a Esquerda à esquerda do PS votará contra o OE, é possível vislumbrar no horizonte uma aguda crise política.
Nas últimas semanas percebeu-se que o PSD se dividia entre a versão radical protagonizada por Paulo Rangel e Pacheco Pereira, que preferiam o voto contra, e a visão moderada, protagonizada por Aguiar-Branco, que preferia a abstenção, ou mesmo a eventual aprovação. Acabou por vencer a versão do "nim", a versão da contabilidade política.
Verdade que o "sim" ao OE amarraria este PSD e o que há-de vir às políticas de Sócrates. O problema é que este jogo de cintura a que a líder social-democrata se prendeu teve uma consequência com custos políticos: o palco foi inteligentemente ocupado por Paulo Portas. O CDS/PP apresentou propostas concretas, daquelas que mexem com a vida das pessoas. Ao contrário, o PSD ficou-se por declarações de intenções. Ora, aquilo de que o país mais necessita é precisamente de um plano plurianual desenhado a partir de medidas claras e objectivas. É que os objectivos económicos e financeiros a atingir já os conhecemos há muito.