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A conversa com José Rodrigues dos Santos que hoje relatamos no canal de Cultura acabou com uma alusão aos problemas de Portugal que mais incomodam o jornalista e escritor. Rodrigues dos Santos elencou dois: o conhecimento e a responsabilidade. Se bem percebi, o jornalista quis dizer que, sem aposta no conhecimento, não há país que progrida. E que, sem o exercício da responsabilidade individual por parte de quem manda e de quem é mandado, a confusão instala-se. Lembrei-me desta parte do repasto a propósito de dois temas que marcaram a semana "política": o acordo entre sindicatos e Ministério da Educação e os passos dados rumo à aprovação do Orçamento do Estado.
Após quatro anos de uma rija batalha, os principais actores do sistema educativo puseram-se de acordo. A responsabilidade acabou por imperar. É inútil fazer agora o balanço dos vencidos e dos vencedores. Útil é perceber que, sem paz e estabilidade, não há modo de edificar um edifício educativo que responde com eficácia aos desafios que se nos colocam. José Rodrigues dos Santos lembrava, no almoço, que a Arábia Saudita tem muito dinheiro, mas, quando quer construir grandes infra--estruturas, chama técnicos estrangeiros. Porquê? Porque lhe falta o conhecimento. Não há bom conhecimento sem boa Educação. Por isso o acordo alcançado ontem é tão relevante.
O Orçamento de Estado é um assunto igualmente delicado. Porventura mais delicado, na medida em que as variáveis que cruzam o tema são bastante voláteis. Dois exemplos. Um: da aprovação do documento na generalidade até ao debate na especialidade (aquele que verdadeiramente interessa, por ser esse o lugar onde se escrutina medida a medida) vai um passo bastante amplo. Nada garante que as boas intenções mostradas no plenário não venham depois a resvalar para um beco sem saída. Dois: a liderança a prazo do PSD é, em si, um factor de elevado risco. Alguém está em condições de garantir que o próximo líder aceitará sem rebuço o que ficar agora eventualmente acordado com o Governo?
O dilema é este: os principais partidos estão dispostos a abdicar de uma parte das suas convicções, da sua alma, para salvar, com responsabilidade, o país? Os actores do sector educativo escolheram esse caminho. Que, em boa verdade, é o único que permite vislumbrar a luz ao fundo do imenso túnel que temos pela frente.