Em circunstâncias absolutamente inéditas - resultantes da atitude de provocar a interrupção de uma legislatura e de fazer acrescer, aos efeitos da crise financeira internacional que atingiu severamente as dívidas soberanas europeias, uma crise política nacional - convém que os portugueses optem nestas legislativas, votando e assim expressando a sua vontade, cientes dos desafios que o país enfrenta no futuro imediato.
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Desde logo, o desafio de aplicar as medidas de austeridade previstas no memorando da troika. E para isso será necessário considerar que a futura legislatura dependerá muito de três exigências: sentido de responsabilidade, estabilidade e capacidade de diálogo.
Responsabilidade para proceder ao reequilíbrio orçamental, cumprindo a calendarização proposta pela troika até 2013. Estabilidade para implementar de forma coerente políticas públicas que assegurem um desenvolvimento sustentável para Portugal, mediante uma liderança patriótica que defenda os interesses do país. Isto é, políticas que - sem prejuízo do intento de reduzir o défice - estimulem a economia a nível territorial e sectorial, assim como a criação de emprego, não prescindindo de preservar, como há dias realçava José Sócrates, o decisivo papel do Estado social (nas áreas da Saúde, da Educação e da Segurança Social), tanto mais que este é crucial para a coesão social. Por fim, e dado que a fragilidade social dos próximos anos não se coadunará com radicalismos mas sim com a capacidade para escutar a sociedade, o futuro governo deverá ter grande disponibilidade e habilidade para promover consensos e diálogo, não só entre os partidos, da Esquerda à Direita, mas também entre sindicatos e empregadores.
E quando se estima que, por força da aplicação das medidas de austeridade previstas no memorando, os efeitos sociais sejam graves - nomeadamente ao nível do aumento do desemprego (resultante, designadamente, de um eventual aumento dos despedimentos por extinção de posto de trabalho e por inadaptação) ou ainda, da expectável perda de rendimento disponível das famílias - convirá que o futuro Governo assuma, principalmente, uma postura permanente de diálogo, respeitosa e atenta à evolução social do país, procurando sempre que possível atenuar estes efeitos (e não acentuá-los, sugerindo outras medidas no plano laboral ou social e aproveitando a crise para pôr em causa o modelo social em que temos vivido).