Num contexto de crescentes dificuldades de financiamento externo do país, as duas últimas semanas foram vertiginosas para Portugal: após a posse do presidente da República e a Cimeira Europeia de 11 de Março, o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC IV) que Portugal está obrigado a apresentar a Bruxelas foi rejeitado na Assembleia da República. Recusado por uma inesperada coligação negativa que, sem propostas construtivas alternativas às apresentadas pelo Governo, surpreendentemente uniu os partidos da Esquerda radical à Direita.
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Ora, com a consequente demissão do primeiro-ministro - que havia alertado para a premência do diálogo em torno do PEC - instalou-se uma crise política. De facto, do que o país menos precisava, nesta altura de crise das dívidas públicas soberanas europeias e de forte pressão externa especulativa, era que a estas se juntasse uma crise política. Necessitava, isso sim, de uma imprescindível capacidade de diálogo, de uma resistência colectiva à adversidade, de uma união convergente de esforços dirigidos a um mesmo propósito: evitar a intervenção do FMI em Portugal.
Entretanto, e já em ambiente de pré-campanha, vamos assistindo à apresentação espaçada de propostas políticas avulsas e dispersas, ora sugerindo o aumento da receita (impostos, entre outros, o IVA) ora a redução da despesa pública. E ante uma provável, mas muito nefasta, intervenção externa - que, a verificar-se, além de prejudicar durante anos a imagem do país perante investidores estrangeiros, deixaria fortes sequelas sociais, a avaliar pelas medidas já adoptadas na Grécia e na Irlanda, designadamente no que respeita a despedimentos na Função Pública, à redução do salário mínimo, ao cancelamento do 13.º mês, ou à liberalização dos despedimentos - os portugueses têm necessidade de compreender a razão de ser desta crise política e, concretamente, de conhecer a diversidade de respostas políticas à situação do país.
É que a crise financeira e económica não se suspende e, como se vê, hoje a situação da dívida soberana portuguesa piorou significativamente (por exemplo, há dias a agência de rating Standard & Poor's, pela segunda vez em menos de uma semana, baixou a classificação da dívida portuguesa), pelo que se exige dos partidos um consentâneo e redobrado sentido de responsabilidade, em especial concretizando propostas próprias de uma política de resposta integrada à actual crise.