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Primeiro veio a ignorância, que, quando não militante, era displicente. "É preciso dizer que aceito o que não li nem quero ler? Sim senhor, está muito bem, não me interessa ou me importam em particular as consequências". "Quer o meu mail? Claro que sim, não há problema, que problema poderia haver?". "E o meu número de telefone, também precisam? Ora bem, faz sentido, não há problema, não me aborreço nada, o que é meu é seu, porque não?" Sem pensar nem olhar, a tudo se disse sim, tudo para fazer parte ou não ficar de fora. Ou para aproveitar benesses, descontos e fracas promoções, cuja janela de oportunidade muitas vezes dura o tempo que demora a dizer que sim, que se aceita. Começaram então os mails, insistentes, cada vez mais, pouco interessantes, ou nada interessantes, e não paravam, eram sempre, todos os dias, a vender, a promover, a tentar convencer. Depois as SMS, para tudo e mais alguma coisa e para outras coisas ainda. Pior ainda quando os mails começaram a chegar de gente e empresas que não se conhecia.
Depois, veio a indignação. Primeiro em casa. "Quem é esta gente que sabe o meu nome e o meu e-mail?" E o meu número, quem lhes deu o meu número de telefone? Telefonam de dia, de noite, de dia e à noite". E a seguir na net ou nas redes, que hoje são mais ou menos a mesma coisa. "Estão a usar as minhas fotos, os meus dados, a minha localização, que eu dei, ofereci, sem perguntar porquê nem para quê? E usaram isso para me influenciar a pagar, a comprar, a vociferar e a votar?".
Chegámos agora à irritação. Assim que aparecem as regras de controlo, criadas depois de anos de luta para que se acabem com os abusos, para nos protegerem e obrigarem a um mínimo de ética, não faltam os que se incomodam com este pequeno distúrbio nas suas perfeitas vidas.
Voltamos ao início: ignorância militante.
JORNALISTA