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Não pretendo entrar em grandes discussões sobre a necessidade (já não digo a lógica) de se lançarem foguetes ruidosos. Os entendidos nos segredos da etnografia nativa desembainham sempre o mesmo argumento: é uma tradição fortemente enraizada nalgumas comunidades, sobretudo no interior e no Minho. Pois para mim, e respeitando essa defesa, é tão absurda como tradição como andar a espetar bandarilhas no lombo de um touro e fazer disso um espetáculo de massas. Mas os portugueses adoram ribombar. A qualquer hora do dia. Seja porque a santinha da terra faz anos, porque o clube do coração ganhou um troféu, seja, até, porque o senhor abade comemorou 50 anos de sacerdócio. Os foguetes só servem verdadeiramente para duas coisas: aterrorizar crianças e aterrorizar cães. Uns e outros não merecem o trauma. Ora, no estertor da canícula que nos suga o ar, o Governo decidiu, e bem, proibir o lançamento de foguetes até ao dia 6, pelo risco (óbvio e agravado) de incêndio. E o que faz a Associação de Pirotecnia? "Repudia". Porque não foi ouvida e porque tinha explosões magníficas marcadas para locais sem mato bravio, como praias, rios, albufeiras e, pasme-se, interior de pavilhões. Sem esquecer as famílias que dependem disto (pelas contas da associação, o setor emprega 12 mil pessoas), só me resta repudiar que haja quem, de tão agredido pelo troar do foguetório, seja incapaz de distinguir o sonido do bom senso.
JORNALISTA