<p>O sorriso era genuíno, por brotar de um primeiro impulso. Ao ver os discretos esgares dos representantes do CDS/PP no Congresso do PSD, em vários momentos do discurso final de Pedro Passos Coelho, percebia-se que traduziam um sentimento, digamos assim, de vitória. Do tipo: nós já defendemos isso - ou mais ou menos isso - há muito tempo. A interrogação seguinte não seria deles, mas de quem assistia: riem de quê, se o novo líder social-democrata estava a tratar de absorver, para não dizer "sugar", boa parte das bandeiras políticas de Paulo Portas?</p>
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Passos Coelho, não restam dúvidas, inaugurou no congresso um novo PSD, se não no plano ideológico, pelo menos no estratégico. Desde logo porque o seu discurso desloca o partido para a Direita, num evidente esforço de marcar fronteiras em relação ao PS de José Sócrates, que por convicção ou por força das circunstâncias foi ocupando o espaço político da principal força da Oposição, sem que os mais recentes líderes o conseguissem travar.
Este reposicionamento tem dois efeitos imediatos. Por um lado, torna mais claras as escolhas políticas que os portugueses serão chamados a fazer, eventualmente mais cedo do que o calendário previsto. Por outro, impede Paulo Portas, que tão bem tem aproveitado o desnorte do PSD, de se arvorar em exclusivo representante da Direita. Por isso o riso dos dirigentes do CDS é tão pouco compreensível.
Mas é este cenário incompatível com a "recuperação" da AD? Não, de todo. Admitindo que está disponível para uma aliança, o que interessa por ora a Pedro Passos Coelho é definir os contornos de uma eventual negociação. Isto é: caracterizar o "dote político" que precede o casamento, com valor suficiente para garantir que o CDS não passará de uma "bengala" para o regresso ao poder.
O teste à aproximação entre os dois partidos está aí não tarda: é o momento em que ambos terão de manifestar o apoio à recandidatura presidencial de Cavaco Silva, de que agora Passos Coelho se declara um entusiasta.
A oportunidade para celebrar a boda pode surgir logo a seguir, caso o presidente da República alcance o segundo mandato. Até lá, nada de pressas. O novo líder do PSD não é homem para correr a foguetes. Prefere que José Sócrates vá sendo queimado em lume brando. É um vaticínio como qualquer outro. Pode é subestimar a capacidade de resistência do primeiro-ministro.