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Andava admirado com a azáfama, em certas horas (normalmente perto dos crepúsculos), de embarcações no Douro. Veleiros, iates, catamarãs, lanchas e por aí fora. Para cima e para baixo, iam até à boca da barra, espreitavam o Atlântico, pairavam e regressavam. Para amadores, era frequência a mais. Descobri agora, que uma recente atracção portuense são os "sunsets" nas águas do rio, vendo os poentes da Foz a partir de iates de luxo, veleiros alugados para festas, "tours" fluviais. Prazer, requinte e qualidade de vida.
E pus-me a pensar, com certa nostalgia, em como, nos tempos em que o mundo era real, os portuenses tinham, nas relações com o Douro, pouco "cash" mas muita paixão. "Sunsets" não havia, porque as viagens eram rio acima, quando se juntavam sócios do Fluvial ou do Sport, alugavam um rebocador, amarravam-lhe uma ou duas barcaças (levando cem ou mais pessoas) e vai de organizar excursões subindo o rio.
O deslumbramento começava ao passar da ponte, ver o Senhor d’Além e as "piscinas" do Aurélio e do Borras, a Casa Branca (um moinho movido por um riacho vindo do Bonfim), o Rego Lameiro, o Areinho. Alguns ficavam na Quinta da Vinha ou seguiam, rente ao arvoredo da Escócia (de cá), até Avintes, às iscas dos tascos do Aníbal e da Violante. Outros subiam a Crestuma, banqueteando-se na Quinta da Estrela.
As "tours" mais ambiciosas paravam em Pé de Moura. E, ao fim do dia, era vê-los, rio abaixo, bem nutridos, dançando ao som das "jazz bands" que seguiam a bordo de algumas excursões. E para o tripeiro da Fontinha ou da Ramada Alta, a felicidade era isto: simples e barata.
*O autor escreve segundo a antiga ortografia