A teoria dos jogos (ramo da matemática aplicada que procura entender como, numa determinada situação, se posicionam estrategicamente os jogadores de modo a obterem o melhor retorno possível) inclui um problema a que convencionou chamar-se o dilema do prisioneiro. A carga policial que aconteceu, ontem, na Escola Primária da Fontinha, no Porto, e o charivari que se seguiu durante largas horas, é um belo, embora triste, exemplo desse famoso dilema.
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Basicamente, o dilema do prisioneiro prevê que cada jogador (no caso, a autarquia do Porto e os membros do movimento Es.Col.A) maximize a sua vantagem sem se preocupar com o resultado do outro. Curiosamente, os especialistas que puxaram pela cabeça para desenvolver esta teoria concluíram que os jogadores obteriam um melhor resultado para ambos caso cooperassem. O que estraga isto tudo? O facto de cada jogador (seja ele uma câmara, um movimento ou um conjunto de prisioneiros) ser incentivado a defraudar a outra parte. É este o ponto-chave do dilema.
Vale o mesmo dizer: onde falta a razão tende a falhar a cooperação.
É fácil encontrar argumentos para nos colocarmos ao lado dos membros do movimento Es.Col.A - a população do bairro aceitou-os, desenvolviam trabalhos com jovens, tentaram usar um edifício devoluto para um fim social. Como é fácil arranjar argumentos para nos colocarmos ao lado da Câmara: teve o bom senso de, reconhecendo o mérito do que ali estava a ser feito, ir protelando o "empréstimo" do edifício, propondo a realização de um contrato de cedência do espaço em troca de uns simbólicos 30 euros por mês.
O que não é fácil de entender é a conclusão da novela. Se cada um dos "jogadores" tinha alguma coisa a ganhar cooperando com o outro, por que razão acabou a coisa à pancada e com indivíduos a tentarem, alegadamente, imolar-se em frente aos Paços do Concelho? Quem incentivou quem a defraudar a outra parte? Como foram autarquia e movimento Es.Col.A apanhados no dilema do prisioneiro?
A resposta é simples: a dado passo deste processo, as partes perderam a confiança uma na outra. Se a isto juntarmos o tradicional olhar de soslaio que Rui Rio costuma colocar na análise às questões da Cultura e os tradicionais excessos (de postura, de linguagem e outros) usados por movimento inorgânicos quando as coisas não são como os seus membros querem (isto é: quando os execrados políticos não entendem tão produtivas e lúcidas cabeças), está o caldo entornado. De onde poderia ter nascido uma obra boa saiu um reprovável exemplo.
Uma coisa, contudo, é certa - a partir do momento em que o consenso entre as partes terminou, à Câmara do Porto só restava repor a legalidade. Por muito que custe aos puros, a Polícia existe para isso.