A debandada registada na Metro do Porto, com a saída dos quatro administradores que restavam, só peca por tardia. Como peca por tardia a reação conjunta dos autarcas da Área Metropolitana àquilo que tem sido o inominável tratamento que o inonimável ministro da Economia tem dado ao assunto. Ou melhor: aos assuntos, porque a STCP tem sido igualmente alvo da incompetência técnica e política de Álvaro Santos Pereira, ou da equipa que supostamente comanda. Chega uma altura em que é preciso dar nome às coisas: este filme de rasteira qualidade não se traduz apenas numa desconsideração aos autarcas e aos trabalhadores das empresas - traduz-se, antes de mais, numa inqualificável desconsideração para com a Área Metropolitana do Porto.
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A inépcia do ministro Álvaro chega ao ponto de não perceber (talvez seja necessário um power point cheio de cores, gráficos e setinhas para o ajudar) que esta é a pior altura para deixar que a situação se arraste. À força de muito trabalho e competência, a Metro e a STCP conseguiram mostrar que, no meio da tormenta que nos apoquenta, é possível ter operações equilibradas nos dois meios de transporte. Como sabemos que a troika, mais cedo do que tarde, obrigará o Governo a arcar com os custos da dívida das empresas públicas, Metro e STCP transformar-se-ão em ativos muito interessantes. Há sérias razões para temer que a incompetência declarada, nesta matéria, pelo ministro da Economia possa, mesmo nestas condições, deitar tudo a perder.
Deste inenarrável caso é preciso, contudo, tirar outra conclusão. Que é esta: a incapacidade de os autarcas se fazerem ouvir é arrepiante. Atente-se nos argumentos aduzidos por Rui Rio e Valentim Loureiro para tentar explicar a balbúrdia: "Não acredito que o senhor primeiro-ministro saiba o que está a passar-se", diz o autarca de Gondomar, no que é secundado pelo seu homólogo do Porto. "O Ministério da Economia é gigantesco. É muito difícil conseguir gerir com eficácia um ministério tão grande", diz Rio.
Quem há muitos anos procura justificação para a perda de influência e de poder do Porto e do Norte tem aqui (mais) um belíssimo exemplo. Piedosos, Valentim e Rio acreditam na inocência de Passos Coelho e na falta de tempo do ministro Álvaro para tomar conta de dossiês como este. A piedade fica-lhes bem. A ignorância nem por isso. Na verdade, o ministro da Economia acha que tem mais que fazer do que andar a incomodar-se com os problemas que estão lá para o fundo da lista das prioridades."É por isso que manda amanuenses às reuniões. É por isso que promete o que não cumpre. É por isso que se entretém com power points.
Vai sendo tempo de, parafraseando Vitor Hugo, parar com a filosofia e passar à ação, indispensável para que o protesto incomode e tenha consequências. Se não for assim, o ministro Álvaro continuará a brincar aos power point. Coisa em que, é preciso dizê-lo, é grande craque.
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