Parece que a única coisa que o candidato a bastonário Vasco Marques Correia (VMC) tem a dizer aos advogados, durante a campanha eleitoral em curso, é que me vai instaurar um processo por eu, num artigo aqui publicado, no passado dia 7, ter revelado o tipo de candidato que ele é.
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No meu artigo eu respondia à acusação que ele me fizera em vários órgãos de informação, segundo a qual a hipótese de um adiamento das eleições era "a primeira de muitas manobras desesperadas de uma nomenclatura que se pretende perpetuar no poder".
O que o enfureceu na minha resposta foi a revelação de que ele é um dos patrões da maior empresa de advogados de Portugal (a PLMJ), onde trabalham mais de 160 proletários da advocacia remunerados com salários muito inferiores ao valor económico que produzem, e, sobretudo, o facto de eu ter afirmado que o Jaguar e o Mercedes em que ele se passeia resultam, pelo menos parcialmente, da apropriação imoral que ele faz de uma parte significativa do produto do trabalho de outros advogados empregados na sua empresa.
Num indigente naco de prosa, publicado neste jornal ao abrigo do direito de resposta, VMC não respondeu a nada do que eu escrevera e, claro, não disse uma palavra sobre o ataque traiçoeiro me desferira na Comunicação Social sem que eu tivesse feito ou dito qualquer coisa a seu respeito. Incapaz de debater abertamente os seus pontos de vista, pois não tem uma cultura de verdadeiro advogado, ele tenta, com o seu oportunismo primário, levar o debate para os tribunais, onde espera beneficiar da tradicional hostilidade dos magistrados contra mim. Lá o enfrentarei.
Se VMC fosse um verdadeiro advogado (e não um patrão de advogados) compreenderia o significado da palavra lealdade e diria aos membros do Conselho Superior que são candidatos nas suas listas que não deviam tentar afastar outros candidatos através de julgamentos em plena campanha eleitoral. Dir-lhes-ia que quem é candidato deveria suspender as funções jurisdicionais durante a campanha eleitoral para não beneficiar eleitoralmente das suas próprias decisões. Se prezasse a lealdade entre colegas saberia (ele e outros candidatos) quão repugnante é tentar aproveitar-se, numas eleições, da perseguição que os membros do CS e seus parceiros de candidatura estão a fazer à sua principal opositora e recusaria essas benesses eleitoralistas em vez de tentar beneficiar delas.
Mas VMC é um advogado de virtudes públicas e vícios privados. Ele, que atacou publicamente advogados como Nuno Godinho de Matos por falarem à Comunicação Social (em defesa, aliás, da dignidade dos seus constituintes ferida por violações do segredo de justiça), tem uma postura diferente quanto a si próprio. Basta ver o espectáculo mediático que a sua empresa de advogados (a PLMJ) está constantemente a dar na Comunicação Social. Ele, que quis aplicar a lei da rolha aos colegas, contratou este ano (ano de eleições), enquanto presidente do CDL, por milhares de euros mensais, uma das mais poderosas e caras agência de comunicação do país, a LPM, pertencente, aliás, ao mesmo proprietário da revista (e do site) Advoctus. Ele e o actual presidente do Conselho de Deontologia de Lisboa e seu candidato ao mesmo cargo, Rui Santos, já pagaram a essa agência, só este ano, quase 30 mil euros de honorários com o dinheiro das quotizações dos advogados portugueses, sem que se perceba para que é que o CDL e um órgão de deontologia precisam de uma agência de comunicação em ano de eleições.
VMC pensa que, pelo facto de o atual bastonário dos advogados de Moçambique ser um sócio da PLMJ, o mesmo irá acontecer consigo em Portugal. Mas engana-se, pois os advogados portugueses já ficaram vacinados contra essa maleita, precisamente desde o mandato do seu sócio José Miguel Júdice.
Se VMS conhecesse os advogados portugueses saberia que nunca será eleito bastonário um candidato que, em campanha eleitoral, ameaça colegas com processos judiciais e que tenta aproveitar-se eleitoralmente do achincalhamento público que membros da sua própria candidatura fazem contra uma colega candidata a bastonária.
Por isso, eleitoralmente, ele suicidou-se logo no início da campanha. Que a sua candidatura Requiescat In Pace!