O risco de ocaso da Direita tradicional é sério. Os sinais no CDS são mais evidentes, tendo em consideração as deserções em série de altos quadros. No caso do PSD, o desnorte da atual Direção perante uma disputa de liderança, que terá benefícios para a saúde do partido (seja qual for o resultado), pode afastar os eleitores, pouco dados a votar em partidos periclitantes. Havendo ocaso no seio da Direita tradicional, a Iniciativa Liberal e o Chega têm legitimidade para sonhar mais alto.
Corpo do artigo
Perante socialistas desorçamentados e sociais-democratas tumultuados, André Ventura encenou já o papel de vítima ao alegar que há um entendimento entre PS e PSD para "anular a importância do Chega no Parlamento" após as próximas eleições legislativas.
Historicamente, tanto o PSD como o CDS têm pouca atratividade para os trabalhadores dos serviços e operários, que representam mais de metade do eleitorado. Onde está então o seu público-alvo? Está nos grandes e pequenos proprietários e gestores, mas também nos pequenos empresários e comerciantes. Segundo um interessante estudo do Instituto Português de Relações Internacionais de 2020, intitulado "As Bases Sociais dos Partidos Portugueses", os pequenos empresários e comerciantes têm sido cada vez menos abstencionistas e denotam mesmo uma predisposição para votar à Direita. Quem foi mais afetado pela pandemia? Adivinhou. Foram os pequenos empresários e comerciantes. Em quem poderão eles votar no lado direito do espectro político?
O PSD e CDS não apagaram ainda as marcas da troika. A pandemia afetou todos os países. A crise financeira atingiu só alguns e a austeridade foi além do que a troika pedia. A coligação Passos-Portas adotou um discurso mais liberal, hostil à justiça social e ao Estado-providência. Rio tem tentado recolocar o partido ao centro. Rodrigues dos Santos, no CDS, nem tanto. As eleições são já a 16 de janeiro ou em data próxima. O tempo urge.
*Editor-executivo-adjunto