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Publicou o The New York Times uma reportagem sobre o Porto com o título: "Uma cidade cheia de vida, que fala ao coração". E, como introdução, dizia: "É fácil cair de amor com as ofertas deste tesouro classificado pela UNESCO". Tal motivação inspiradora provocou-me uma meditação transcendental sobre os locais propícios ao romantismo, nos tempos em que se namorava com respiração boca a boca e não digitalmente. E elaborei a seguinte lista: os bancos das escadas "do Carolina" (ou do liceu) eram muito procurados. (Havia o problema dos jardineiros serem a Pide dos costumes e abraços, beijos e mão na mão eram severamente censurados e podiam dar expulsão do lugar.)
Sítio tranquilo era a ponte do lago do Carregal. Idílico, suscitando as emoções poéticas, tinha o defeito de as pedras dos parapeitos serem incómodas. (Com o etro, foi-se.) O Miradouro das Virtudes oferecia pores-de-sol arrebatadores sobre Miragaia. Não estando sobrelotado de turistas, era calmíssimo e melhor para namorar do que o aconchego dos cinemas.
Em S. Lázaro – excelente "terroir", não de vinhos mas de paixões – privilegiava-se os bancos de mármore do monumento a Marques de Oliveira. Panteão para declarações. Mas os máximos do romântico, em ambientes do séc. XIX, eram a Alameda da Cordoaria, o Palácio (cheio de esconsos convidativos) e, ao meu gosto, o Passeio Alegre (por causa do ar mareiro, até a inspiração era nostálgica).
Se o New York Times soubesse destas coisas, punha o Porto nos píncaros das cidades apetecíveis e congestionava Pedras Rubras com viajantes fartos de "chats gpt" e ávidos de naturalidade.
* Professor e escritor
O autor escreve segundo a antiga ortografia