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No início da época, as expectativas não eram elevadas. Os golos não apareciam com a regularidade que se esperava. As jogadas eram previsíveis. Começou a especular-se que poderia perder a titularidade. Porventura mudar de clube. Percebeu-se, entretanto, que estava só a ganhar balanço. E começou a bater recordes. Uns atrás dos outros. A desconfiança deu lugar à euforia. Carregou a equipa às costas e conquistou troféus.
Julgará o leitor que se está a descrever o percurso de Ronaldo. E na verdade está, mas não só o percurso do Ronaldo futebolista. O craque de que agora se fala é do "Ronaldo do Ecofin" (Conselho de Ministros das Finanças da União Europeia), também conhecido por Mário Centeno. Tal como no caso do futebolista, as expectativas, na forma de previsões económicas, não eram as melhores. Chegou a especular-se com a sua saída do Governo e até de uma troca de clube (para a liderança do Eurogrupo). Mas depois começou a bater recordes. Uns atrás dos outros. Na taxa de desemprego, no crescimento da riqueza do país (PIB) e, cereja no topo do bolo, no défice (o mais baixo da nossa democracia, segundo uns cartazes que andam por aí espalhados pelas rotundas).
Quem agora lhe deu a alcunha de "Ronaldo do Ecofin" foi Wolfgang Schäuble, essa espécie de José Mourinho da política europeia. Afinal, é ele quem dá a tática da austeridade que todos estão obrigados a seguir. E, tal como Mourinho, também ele é capaz de adaptar o discurso às circunstâncias. Se Mourinho começou, no início da época, por menorizar a presença do seu Manchester United na Liga Europa, uma competição secundária, e tratou entretanto de a valorizar, uma vez que foi aí que encontrou o bilhete para a próxima edição da Liga dos Campeões; também Schäuble começou por prever que as políticas de Centeno conduziriam a um novo resgate, para agora virar o bico ao prego e descobrir no nosso ministro o novo craque das finanças europeias, encontrando aí o bilhete para continuar a impor uma política de rigor orçamental: porque, depois do défice, há que tratar da dívida.
Esta, no entanto, é uma tarefa ainda mais difícil. Até porque não nos devemos deixar iludir pelos elogios futebolísticos de Schäuble a Centeno. Da mesma forma que Mourinho e Ronaldo não vão à bola um com o outro, também Schäuble é incompatível com propostas de reestruturação da dívida, seja para renegociar prazos e juros, seja, abrenúncio, para discutir a mutualização da dívida. Continuaremos a somar milhares de milhões todos os anos, mais que não seja porque vamos continuar a pedir emprestado para pagar os juros. E depois do procedimento por défice excessivo, chegará o procedimento por dívida excessiva. Vamos precisar de juntar Messi a Ronaldo.
EDITOR EXECUTIVO