Ronaldo, Ronaldo, Ronaldo. O contributo da sua genialidade para o quarto apuramento consecutivo de Portugal para um Mundial de futebol redundou no óbvio: ao reconhecimento das excelsas qualidades do astro, o país juntou-lhe um natural orgulho coletivo numa seleção na qual se revê, dispensando (por umas horas) as agruras de uma vida feita de sofrimentos vários.
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Por norma macambúzios e pouco dispostos a reconhecerem qualidades entre os seus, os portugueses têm furado essa regra comportamental quase sempre pela mesma via: a do futebol. Seleção, clubes, treinadores e atletas têm ao longo dos anos alcançado em boa cadência o sucesso competitivo de Portugal no plano internacional. Tratando-se de uma das mais mediáticas indústrias do espetáculo à escala planetária, explica-se, enfim, a importância e o reflexo do alto astral.
Justificam-se os elogios, sejam eles assinados pelo presidente da República ou pelo mais comum dos cidadãos. O sucesso deve, no entanto, provocar uma análise menos superficial e apaixonada - como a que está agora em curso sobre a justiça ou injustiça de atribuir a Bola de Ouro de 2013 a Ronaldo.
A mensagem ontem enviada à seleção pela presidente da Assembleia da República a propósito do apuramento para o Mundial de 2014 é paradigmática - e subliminar. Escreveu Assunção Esteves: "O avanço da bola foi sinal e símbolo da perseverança de todo um povo" (foi assim mesmo que a senhora segunda figura do Estado avançou nas letras). Pois. Eis o cerne da questão: perseverança.
Ronaldo, Ronaldo, Ronaldo. Eis o exemplo.
Apreciem-se ou não os seus caprichos, o futebol faz parte do ADN do craque e daria sempre para o catalogar como atleta acima da média. Só que Ronaldo, como reconhecem todos os profissionais que com ele lidaram de perto nos últimos anos, no Sporting, no Manchester United, no Real Madrid ou na seleção, é um "bicho insaciável", isto é, junta aos dotes genéticos a recusa sistemática da acomodação - apesar de ter conseguido fazer o percurso entre o nascimento em família pobre e o alcançar de uma posição multimilionária. Ronaldo, é público, está sempre focado no seu trabalho, quer sempre mais, é ambicioso e perseverante.
Replicar o génio de Ronaldo em cada português é, evidentemente, uma impossibilidade. Já a consciencialização individual e coletiva de cada um de nós para a vertente da tentativa de perfeccionismo e do antes quebrar que torcer não deve ser uma miragem, antes um imperativo.
Gabar Ronaldo e nele os portugueses se reverem é básico; segui-lo em alguns itens, como a aplicação, é mais difícil. Mas aconselhável.