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Este não é um texto azedo sobre a convivência de Cristiano Ronaldo com chefes de Estado pouco recomendáveis. Este não é, sequer, um exercício repreensivo sobre o âmbito da visita do maior futebolista português de sempre à Casa Branca. Ronaldo é livre de admirar o presidente dos Estados Unidos, tanto quanto é livre de se sentar à mesa com o príncipe saudita Mohammed Bin Salman, o herdeiro do regime de que o atleta é embaixador. Não colhe, por isso, o argumento descabido de que o capitão da seleção nacional se transformou, de repente, num ultraliberal que apoia a deportação em massa de estrangeiros ou num perigoso fundamentalista que defende chicoteamentos em praça pública. Ronaldo foi a Washington numa missão empresarial. Trump recebeu-o de braços abertos também nessa condição.
Não podemos, ainda assim, deixar de olhar para a pegada deste acontecimento e refletir sobre o que ela representa - ou no que podia representar. Ronaldo não é a madre Teresa de Calcutá nem tem, que se saiba, ambições para chegar a secretário-geral das Nações Unidas. É, "apenas", uma das figuras mais reconhecidas do planeta e, como tal, exala um perfume agregador praticamente sem igual. O dia seguinte ao fim da sua carreira será, como ele já reconheceu, ligado ao futebol e aos negócios que gravitam em torno dessa indústria. Mas Ronaldo, que não deve nada a ninguém a não ser a si próprio, tem a obrigação (cívica, não moral) de olhar para esta pequena tempestade mediática e pensar: quando os golos findarem, em que é que eu posso ser a diferença? Não faltarão causas. Queremos acreditar que não lhe faltará vontade.

