vezes é verdade. Como também é verdade que há pequenas "estórias" que valem mais do que mil tratados. Esta, veio do chamado "Portugal profundo", ou seja, da "realidade real" e teve a rara sorte de alguém lhe dar atenção.
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Diz-se que uma imagem vale mais do que mil palavras! Muitas No caso, o JN, na sua edição do passado dia 30, que relata o drama da longínqua e, certamente, pequena freguesia de Rossas, do concelho de Arouca, porque a estrada (EN224) que há dezenas de anos a servia, subitamente e sem aviso prévio, deixou de a servir! Porquê? Por obra e (des)graça do prestimoso "instituto" que dá pelo patriótico nome de "Estradas de Portugal" e que, em matéria de estradas, tem como método fazer o que lhe parece e apetece sem dar cavaco seja a quem for, como prática usar e abusar de critérios que são apenas os seus e como política, o facto consumado que caracteriza os poderes autocráticos e, em geral, muito pouco competentes. A verdade é que factos consumados como este acontecem todos os dias de Norte a Sul do país e não fazem mais do que dar mais um passo no sentido da desertificação do interior, empurrando para as cidades do litoral os poucos que ainda acreditam poder resistir à debandada que nos últimos anos se acentuou dramaticamente. E se por cada povoado afectado pelo quase sempre súbito desaparecimento duma "condição de vida" como é sempre um caminho ou uma estrada, correspondesse uma notícia de jornal, não haveria edições que chegassem para delas dar a devida conta.
A "estória" é simples mas é tão bem contada e tão clara nos problemas que levanta, que não resisto à tentação de a citar no interior desta crónica, deixando ao leitor a liberdade para tirar as conclusões que os factos impõem e que significam a criminosa insensibilidade com que a generalidade do nosso território é tratado pelos milhares de institutos que diariamente lhe tratam da saúde. Para a dita transposição, solicito a compreensão do respectivo autor, o jornalista Salomão Rodrigues, que escreveu:
"Os agricultores da freguesia de Rossas, Arouca, fazem das bermas da EN224 a montra para venda dos seus produtos. Agora, a colocação de rails ameaça acabar com a tradição, pondo em risco o meio de subsistência de várias famílias. As protecções de metal foram colocadas pela Estradas de Portugal. Não há berma, zona de estacionamento temporário, área de merendas ou escapatória da via que não estejam vedadas. "Agora é que vai começar a haver acidentes, porque fecharam a estrada dos dois lados das bermas. Se houver avarias num autocarro ou noutra viatura não há onde estacionar e o trânsito vai ficar todo parado". "Fomos apanhados de surpresa", afirmou o presidente da Câmara de Arouca, Artur Neves, explicando que "o projecto inicial não previa estes fechos". Ou seja: para as Estradas de Portugal (EP), os primitivos caminhos e as actuais estradas em que muitos se foram transformando e que desde tempos imemoriais são elementos essenciais à vida de milhares de comunidades não urbanas, não são mais de que pistas de automóveis cuja performance é necessário assegurar mesmo que para isso seja preciso centrifugar tudo o resto, incluindo pessoas e as suas naturais actividades. A isso, chamam as EP, cuidar da "segurança". Pergunta-se: de quê ou de quem? Resposta óbvia: das máquinas. É que as máquinas matam (e é verdade) mas matam mais quanto menos bermas, alargamentos, escapatórias e acessos locais puderem ser usados por quem lá anda a pé, de bicicleta, de motorizada ou de qualquer outro modo de transporte que não seja o "santo automóvel" ou que, mesmo andando de automóvel quer ou tem necessidade de parar (adequadamente) pelas mais variadas e justas razões. No entanto, em milhares de quilómetros das nossas estradas ditas secundárias (e não só do interior) já acabaram as bermas que agora estão ocupadas por milhares de quilómetros de rails metálicos que as transformam em assustadores canais exclusivamente dedicados à segurança das máquinas, quais "mini-auto-estradas" a que só faltarão as infra-estruturas da praxe para a cobrança de portagens! Ou seja: rails e chips são bons negócios; "Rossas" e "agricultores de Rossas"… não! A "estória" é edificante e diz tudo. E nem sequer é preciso saber ler nas entrelinhas mas por este caminho - ou estrada - também não vamos longe!