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O JN vai perseverar na ideia e no esforço de levar aos seus leitores um debate sobre o serviço público de televisão sem preconceitos ideológicos e desconotado dos vários grupos de interesses que se movimentam legitimamente (se houver outros, ilegítimos, espero que as polícias lhes deem caça) para obterem o melhor dos benefícios ou o menor dos prejuízos no processo de privatização da RTP.
Esta, como a anterior edição do JN, contém informação relevante para esse debate, o qual está centrado nos números porque foi aí que o Senhor Privatizações o colocou.
O problema da discussão sobre os números é menos da habilidade com que cada um os consegue conjugar em benefício desta ou daquela tese e mais, muito mais, do essencial: não há dinheiro. Seja para que a RTP dê uma boa maquia e possa desafogar a tesouraria do Estado, seja para o Estado reformular a sociedade anónima de capitais públicos detentora à qual está concessionado o serviço público de televisão, seja para manter tudo como está.
Por isso mesmo é que em torno da questão mais simples do mundo, como a de saber quanto peso da RTP é sustentável para o bolso dos contribuintes, podem surgir equações de uma imprevisibilidade insuspeita. É o caso da que nesta edição trazemos ao conhecimento dos nossos leitores e se enuncia deste modo: se o Governo concordar em fechar um dos canais, se concordar com a autonomização dos centros regionais, se concordar em autonomizar a RTP Meios e Serviços e se concordar na implementação de um processo de mobilidade interna, a administração da nossa televisão pública garante uma poupança na casa dos 180 milhões de euros em custos operacionais e prescinde dos 80 milhões da Indemnização Compensatória.
Qualquer um de nós faria este negócio se... Se tivesse tempo e dinheiro. Ou seja: tudo o que falta ao Governo. Por isso, o problema está nos graus de incerteza: fechar qual canal e com que cheque? Dar autonomia aos centros regionais e quem continua a pagar a atividade? Provocar mobilidade no interior da empresa a que preço e paga por quem?
Os apertos em que todos vivemos não estão para ses. E os deste plano serão muito recomendáveis mas vão ter de ser avaliados à luz de uma máxima cada dia mais atual e mais incotornável: tempo é dinheiro.
Ora, se todos nós temos o tempo relativamente contado, o mesmo não se espere do Estado, porque esse já morreu. Só falta mesmo é enterrá-lo sem saudade no que respeita a empresas públicas. Usou e abusou dos nossos impostos em nome da utilidade pública que raramente foi outra coisa que o interesse particular de partidos e dos grupos de influência que lhes alimentam as ambições de poder.
E é pena que assim seja, porque deveríamos ter espaço para debater se uma marca como a RTP, que, a seguir à bandeira, é provavelmente o segundo símbolo da Nação, pode em alguma circunstância ser vendida ou alienada.