Os 60 anos do Centro de Produção do Norte da RTP devem ser mais do que um tempo para celebrar um percurso de descentralização das emissões da TV pública.
Corpo do artigo
Constituem uma oportunidade para repensar o lugar do operador de serviço público de média. Que vê hoje as suas funções reforçadas, quando o país carece de maior coesão territorial e de mais elites em campos diversos. A esse nível, a RTP tem intransmissíveis missões: a de ser o elo de ligação da nação e o vetor estruturante de um espaço público mais dinâmico.
Sendo um país profundamente assimétrico, Portugal precisa de meios que reequilibrem territórios. Poder-se-á pensar que a via das políticas públicas constitui o modo único de ir resolvendo os problemas. No entanto, que ninguém ignore a força dos meios de Comunicação Social, nomeadamente daqueles que apresentam estruturas descentralizadas. Aqui se integram, entre outros, este jornal, a Lusa e a RTP. Enquanto os órgãos privados vão dependendo da vontade dos seus acionistas, o operador público de média dispõe de outra liberdade, apenas concretizável se contar com uma irrefutável legitimidade de ação e com meios que tornem possíveis as suas missões.
Convém, pois, não esquecer que o país que somos resulta em parte do desenho que os média vão fazendo dos territórios que mediatizam. Infelizmente, hoje os órgãos de Comunicação Social, por circunstâncias várias, chegam a cada vez menos lugares e pessoas. E isso deveria preocupar-nos. Muito. Pela sua natureza pública, a RTP tem obrigação de se dirigir a todos. Através da informação e do entretenimento. Isso implica investimento. Que tem um retorno, nem sempre muito visível quando não atinge o centro, embora muitas vezes se detenha em margens que importa amparar. E isso só acontece pela proximidade ao território e às pessoas que a sua natureza lhe impõe.
Hoje, o Centro de Produção do Norte tem o direito de exigir mais: mais meios, mais atenção, mais investimento. Porque fez, e continua a fazer, muito. Pela região, mas, acima de tudo, pelo país. Sem uma emissão descentralizada, parte do país ficaria excluído do espaço público mediático. E uma audiência substancial continuaria a desconhecer o país que somos. Todavia, é preciso ambicionar mais futuro. Como já aqui escrevi, aquilo que se faz a partir do Centro de Produção do Norte não é uma cedência da RTP. É um direito, de ordem nacional, que deve ser equacionado a favor de todos.
Professora associada com agregação da UMinho