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A rua de maio que eu vi - no Porto - era desconcertante. A manifestação, muito composta, organizada pela CGTP, e no fundinho pelo Bloco, parecia não saber que o PCP e o Bloco viabilizaram o Governo em funções.
Os slogans mais ouvidos, a começar por "A luta não descansa, trabalhar pela mudança!", "A luta avança, a malta não descansa", "Contra a exploração a luta é solução" a acabar num muito repetido "Soberania nacional, sem tratado orçamental!", lembravam os velhos tempos em que o PCP e o Bloco sabiam de que lado estavam, manifestando-se com a liberdade de quem podia estar sempre em negação.
Pela Avenida, trabalhadores de empresas, sindicatos, associações e grupos mais jovens (do BE), gritavam a plenos pulmões comandados por "animadores" a roçar o enraivecido.
Por qualquer razão, aqueles manifestantes não pareciam os bem disciplinados militantes do PC.
Como se aquele fosse o espaço onde ainda podiam ser verdadeiramente comunistas e verdadeiramente oposicionistas.
Nos passeios, a assistir, para além dos turistas encantados por um entretenimento tão "typique", a conversa era outra e muito díspar. Ouvi gente zangada, sentindo o PCP demasiado comprometido com a situação, ouvi gente esperançada prometendo uma greve geral estrepitosa. E continuei a ouvir, por muitas esquinas, que, ainda assim, sempre era pior ter isto tudo entregue à Direita.
A manifestação tinha muito pouca juventude. Curiosamente, ou não, a malta nova do PC, que julgamos que possa vir a fazer uma evolução mais sustentada, não compareceu a um ritual que ainda é ortodoxo e purista, nas palavras e nos gestos e, por isso, denuncia uma contradição incómoda.
Não conta a novidade do Bloco que organizou uma faixa a reclamar mais atenção para os direitos do "trabalho sexual". Não tinham "patine" revolucionária.
Até quando esta corda poderá esticar é o que veremos. Até final da legislatura, por certo, mas sem continuidade assegurada, julgo, sobretudo se houver um mau resultado autárquico.
As bases que sempre seguraram este resquício institucional, patriota e ortodoxo do comunismo português, não resistirão a uma novo pacto que dissolva todos os dizeres do 1.º de Maio.
Um que já caiu, e que por cá mais ouvíamos, foi "A luta continua, Governo para a rua"!
* ANALISTA FINANCEIRA