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A mesma autarquia que, em outubro, defendia o despejo "sem dó nem piedade" de inquilinos de habitações municipais que tivessem participado nos distúrbios na região de Lisboa, mesmo que por arrasto fossem para a rua crianças e outros inocentes, está envolvida numa nova polémica. Depois de ter conhecimento, a cinco de dezembro, de um grupo de casas ilegais (construções mal-amanhadas e remendadas) em que algumas pessoas viviam, a vice da Câmara de Loures decidiu, em quatro dias, que era tudo para demolir e mandou notificar os moradores. Homens, mulheres, crianças.
É certo que as condições de habitabilidade são inexistentes, mas entre uma chapa a cobrir a cabeça com umas tábuas a amparar o vento e viver (literalmente) debaixo da ponte... Mas ninguém da autarquia falou com estas pessoas, ninguém as quis ajudar nem lhes deu tempo para arranjar solução. Deram 48 horas para sair a pessoas que até trabalham, mas que não conseguem pagar uma renda. Com a exposição mediática, lá se suspendeu a demolição e aguarda-se resposta da Segurança Social. Mandar abaixo é fácil. Ter um pingo de humanidade é mais complicado. E sempre dá mais votos fazer o discurso radical, porque ter mão dura com os fracos está na moda.