<p>A droga voltou a dominar as ruas das cidades, em particular em Lisboa e no Porto. Este fenómeno tem a sua expressão mais visível na figura do arrumador de automóveis, esse actor urbano omnipresente, que provoca um sentimento de insegurança generalizada. E constitui o símbolo duma comunidade apática e egoísta.</p>
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Os toxicodependentes, abandonados na via pública, estão cada vez mais entregues apenas à sua má sorte. As equipas de apoio na rua, escassas, pouco mais fazem do que agir ao nível da redução de danos, distribuindo seringas e medicamentos. Entretanto, as estruturas do Instituto da Droga e da Toxicodependência funcionam na lógica da administração pública portuguesa, com muitos serviços, muitos chefes e uma quase nula capacidade de intervenção.
Há que inverter este ciclo decadente. Os toxicodependentes, e os arrumadores em particular, têm direito à sua recuperação e reinserção e os cidadãos devem exigir tranquilidade no espaço público. Impõem-se intervenções de âmbito global, que abranjam as componentes sanitária e social, e ainda acções ao nível da segurança urbana. Esta deve incluir uma vertente policial, mas também contemplar a manutenção duma via pública em condições mínimas de utilização, limpa, iluminada, empática e segura. Os exemplos implementados com sucesso são vários e bastará copiar e adaptar as boas práticas de programas como os da cidade de Amesterdão ou até do programa Porto Feliz, interrompido abruptamente, na sequência duma birra política entre o ministro Correia de Campos e o presidente da Câmara.
Não haja ilusões. Se não prestarmos hoje atenção aos toxicodependentes, os custos sociais serão incalculáveis. Também em termos económicos, a falta de estratégia no combate à toxicodependência ir-nos-á sair cara, em função dos gastos futuros com os tratamentos e com o combate à degradação dos níveis de saúde pública. O Governo português pode até poupar agora uns tostões, mas esta visão negligente irá custar-nos milhões num futuro próximo.