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Primeiro facto. A Câmara Municipal de Lisboa enviou um email com os nomes, as moradas e os contactos telefónicos de três manifestantes anti-Vladimir Putin à embaixada russa e ao Ministério dos Negócios Estrangeiros daquele país. Tinham organizado uma manifestação contra o regime de Moscovo a propósito da detenção do ativista Alexei Navalny.
Segundo facto. O então presidente Fernando Medina pediu desculpas aos promotores do protesto. "Quero assumir esse pedido de desculpas público por um erro lamentável, que não poderia ter acontecido", disse. O erro, argumentou a Autarquia, resultou de um procedimento burocrático dos serviços. Fernando Medina rejeitou ainda qualquer cumplicidade com o regime de Moscovo.
Terceiro facto. A Comissão Nacional de Proteção de Dados multou a Câmara Municipal de Lisboa em 1,2 milhões de euros, no âmbito do caso que ficou conhecido por Russiagate.
Quarto facto. Fernando Medina perdeu as eleições para a Câmara de Lisboa. Não reconhecer que o caso contribuiu para a penalização dos eleitores é como acreditar que na Ucrânia apenas existe uma "operação militar especial".
Quinto facto. Fernando Medina, que já tinha sido o número dois de António Costa na Câmara de Lisboa, será o próximo ministro das Finanças. A sua experiência profissional não pode ser posta em causa. Já foi secretário de Estado do Emprego e Formação Profissional e secretário de Estado Adjunto, da Indústria e do Desenvolvimento. A sua experiência política muito menos.
Mas a política é feita de confiança cega. Absoluta.
A escolha de António Costa é, certamente e em primeiro lugar, baseada nestes valores. A sucessão na liderança do PS deverá ser uma questão secundária. O primeiro-ministro diz que o seu Governo será de combate. E será. Ideologicamente, com toda a certeza, face à nova composição da Assembleia da República.
A escolha de Fernando Medina é arriscada. Neste momento, muito arriscada.
*Diretor-adjunto