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Embora pouco ortodoxo (o meu amigo Miguel Veiga dizia que deveríamos cultivar a heterodoxia), em vésperas do S. Bartolomeu e da sua Festa (que já devia ser Património Imaterial), dedico esta crónica ao incomparável Bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos. E explico porquê.
Há anos, no sábado anterior à Festa, estava na Escola da Pasteleira, acompanhando uma reportagem da RTP sobre a confecção, por voluntárias, de centenas de trajos de papel, para o desfile dedicado ao Santo. De repente, entrou na sala, onde se costuravam dezenas de fatos, o Bispo D. Francisco. Quando o vi, comecei a rir e ele perguntou a razão do riso. Disse-lhe que só no Porto, podia acontecer um Bispo vir dar a anuência à festa mais pagã da cidade (no ritual do "banho santo", mantém-se um culto milenar das águas). Ao que ele respondeu: "Sabe, nestas coisas devemos assumir uma postura inteligente!" E pensei: é isto que separa a mediocridade da categoria.
Recordando D. António Francisco, deixo um poema que lhe dedicou o saudoso João Manuel (escrito a correr, no dia da sua morte): "Sem ruídos, em silêncio, passo a passo / Era a sua presença toda amor / E tanta vez, neste seu espaço / Fazia o Bem, o nosso bom Pastor. // Foi um caminhar, feito de sorriso / Embora tivesse sido muito breve / Mas enquanto cá andou e foi preciso / As mãos abertas para os outros teve. // O tempo passa tão veloz correndo / E é sempre a morte que nos vai vencendo / Mais a saudade para poder rezar. // Fica a lembrança, jamais esquecida / De quem passou tão amado nesta vida / Com um sorriso para nós sempre o guardar!"
O autor escreve segundo a antiga ortografia