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Não se sabe desde quando a Festa existe. Talvez 1583, da fundação da Paróquia. Ou antes. De qualquer modo, há informações, de 1855, sobre a Festa dos Rapazes (e meninos) de quem S. Nicolau é patrono.
Além de procissão, fazia-se magusto, no adro da igreja, para a vizinhança. No dia 5, véspera da Festa, a catraiada angariava quantos trastes de madeira servissem para a fogueira onde assavam alqueires de castanhas. A Festa era ruidosa, pelo barulho de campainhas, pregões e vozearias que chamavam à participação.
Com o pragmatismo liberal e as alterações urbanas da zona o evento extinguiu-se. No entanto, em 1902, Raul Brandão dele nos dava outra imagem: "Véspera de S. Nicolau e toda a população na rua: uma mixórdia de grotesco e de caligens, de lama e gritos, de gestos confusos". Ou a Festa mudou ou ele a viu diferente.
Entretanto, pelos anos noventa, o S. Nicolau dos Meninos ressuscitou na sua paróquia. Tradição reinventada, um personagem vestido de Bispo de Mira, acompanhado de acólitos com os sacos de prendas, vem de Massarelos num barco rabelo e desembarca no Cais da Estiva onde o esperam crianças das escolas. Seguem depois, em cortejo, até à Alfândega onde decorre cerimónia alusiva.
Não há no mundo celebração nicolina como esta, com o Santo a chegar de barco. O que, em tempos de afirmação internacional da cidade, poderia constituir uma oferta cultural que, bem divulgada, atraísse ao Porto, para se encantarem com a surpresa, os viajantes do turismo de Inverno. Porque, afinal, este S. Nicolau da Ribeira é, para os de fora, o "Santa Claus". Não sei se me faço entender.
O autor escreve segundo a antiga ortografia