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Em 1758, o pároco escrevia nas “Memórias” de Massarelos: “os moradores deste lugar servem, para sua devoção, a mesma Senhora, sua padroeira”. A devoção era expressa na festividade a Nossa Senhora da Boa Viagem, associando os marinheiros da cidade e dos navios fundeados no Douro. O correr do tempo, a ruína da primitiva capela e outros factores levaram à construção, a partir de 1776, da igreja dedicada a S. Pedro Gonçalves Telmo, o “Corpo Santo”, padroeiro da gente do mar e também da freguesia (que hoje, religiosamente, pertence ao Santíssimo Sacramento).
O templo setecentista alojaria a (então económica e socialmente poderosa) Confraria das Almas do Corpo Santo de Massarelos. Renascida em 1994, a ela se deve o ressuscitar das Festas de S. Telmo que, a 12 de Julho, oferecem um programa integrando velhas tradições no ambiente de uma cidade que se recusa a abandonar a alma.
Com início na Igreja de S. Pedro da Afurada, segue-se uma Procissão Fluvial até ao Cais da Alfândega, onde são homenageados os “homens falecidos no mar”. A procissão prossegue, a pé, até à Igreja do Corpo Santo onde, depois da Eucaristia Solene, terá lugar, no adro, o antigo costume da distribuição do Pão de S. Telmo, seguido de actuação de grupos de folclore.
O Duque de Wellington, a propósito dos portugueses, dizia: “Têm entusiasmo em barda, cânticos patrióticos e abundância de vivas. Falta que cada um cumpra o seu dever no lugar competente”. A Confraria de Massarelos, pelo contrário, cumpre o seu dever para com a cidade: torna-a mais humana. Sem artificialismo, ajuda a construí-la (ou reconstruí-la?).
(O autor escreve segundo a antiga ortografia)