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O nome não será familiar a gerações mais velhas, mas os mais jovens certamente o conhecem. Com apenas 23 anos, Kai Cenat é um dos maiores streamers da atualidade e uma das figuras mais influentes do universo digital. No mês passado, a revista "Time" colocava-o em capa a liderar a lista dos cem criadores mais influentes. Cenat comanda multidões e vai redefinindo o entretenimento digital.
Em Nova Iorque já se viu de tudo, mas em agosto de 2023 ver milhares de jovens a correrem pelas ruas de Manhattan, não para um concerto, mas para acompanhar um criador digital, provocou um sobressalto singular à cidade que nunca dorme. Oriundo de uma família do Caribe, Cenat cresceu no Bronx, mas cedo começou a evidenciar-se pelas publicações de vídeos de humor nas redes sociais. Em 2021 estreia-se na plataforma de streaming Twitch onde depressa começou a bater recordes. Hoje conta 18 milhões de seguidores. Em maio deste ano, lançou o programa "Streamer University", concebido como uma espécie de bootcamp destinado a aspirantes a criadores digitais. O programa decorreu na University of Akron (Ohio) e reuniu 120 estudantes selecionados de entre mais de um milhão de candidatos.
Este novo ambiente significa que o streaming é mais do que entretenimento. É espetáculo, cultura pop e, acima de tudo, influência social e uma indústria com muito futuro. Acompanhando a atividade de Cenat e a adesão que reúne, percebemos que há uma geração que vive, comunica e faz consumos de modo muito diferente daqueles que nasceram antes dos anos 80. Cenat é um exemplo claro de que o entretenimento se desloca dos palcos tradicionais para ecrãs interativos onde os públicos há muito deixaram de ser espectadores para se tornarem parte ativa do espetáculo.
Num mundo saturado de conteúdos, a capacidade de criar momentos virais e de mobilizar milhares de pessoas adquire agora um valor colossal. Criar conteúdos digitais pode ser um negócio multimilionário que mobiliza rentáveis patrocínios, volumosas vendas de merchandising, atrativos contratos publicitários e até interessantes parcerias institucionais, diluindo-se, assim, a fronteira entre criador e empresário.
Não podemos, de todo, subestimar o alcance desta nova cultura digital. Plataformas como Twitch, YouTube ou TikTok moldam agora novas linguagens, motivam diferentes formas de relacionamento e criam outras perceções da realidade. Cenat e outros como ele não estão apenas a entreter. Estão a criar comunidades globais em tempo real, com códigos, referências e afetos próprios. No vasto universo digital onde cada clique é um aplauso, Kai Cenat surge como o protagonista de uma narrativa que as gerações mais velhas não sabem ler, mas que os mais jovens recitam de cor. E isso deve ser levado muito a sério.