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Penso que uma das causas do nosso atraso estrutural se chama analfabetismo. Era o cancro que nos colocava na cauda da Europa e perseguia no tempo: 1878, 79.4% da população; 1900, 74.1%; 1911, 69.7%. E nem a I República conseguiu melhor do que, em 1930, 60%. Nestas condições, revolução industrial, avanço social e estabilidade democrática, seriam difíceis. Mas havia quem gostasse.
Em 5 de Fevereiro de 1927, no jornal "O Século", D. Virgínia de Castro e Almeida, autora de obras de literatura infantil e juvenil, escreveu: "(...) Aprenderam a ler! Que lêem? Relações de crimes; noções erradas de política; livros maus; folhetos de propaganda subversiva. Largam a enxada, desinteressam-se da terra e só têm uma ambição: serem empregados públicos. Que vantagens foram buscar à escola? Nenhuma. Nada ganharam. Perderam tudo. Felizes os que esquecem as letras e voltam à enxada. A parte mais linda, mais forte e mais saudável da alma portuguesa reside nesses 75% de analfabetos".
Não obstante, na Avenida dos Aliados, 151 - 2º funcionaria a "Liga de Propaganda contra o Analfabetismo", à qual, em 14.10.34, a Professora da Escola de Vilar de Mouros, Maria Helena Silva, se dirigiu pedindo "alguns prospectos", justificando ser "necessária uma grande e persistente campanha, contra o mal que nos aflige tão fortemente". Contra ele tinha "empregado todos os esforços" e pedia "o grande favor da colaboração".
Duas visões da Escola e do país. Da liberdade e da servidão. Como diria Rodrigues Lobo: "Este desprezo que vemos / Do bom saber, da boa arte, / Não se usa em toda a parte, / ... é na terra onde nascemos".
* Professor e escritor
O AUTOR ESCREVE SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA