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Vivemos, de novo, momentos difíceis pela praga dos incêndios, pesem os sucessivos alertas da Proteção Civil para as condições meteorológicas extremas. Instalado o caos dos fogos, que renascem das cinzas com o vento, a prioridade óbvia é proteger pessoas e habitações. Como sempre acontece nestas alturas, ativam-se os alertas e os “breaking news” televisivos, que exploram a dor e a tristeza como fonte de alimentação de audiências. No final, fica a tristeza infinita, sem reparação possível, da perda de vidas humanas, parte delas ligadas à doação em nome da nobre causa da atividade dos bombeiros.
Regressa a discussão sem fim do ordenamento agroflorestal, com inúmeros especialistas a debitar sobre a matéria, com algumas e habituais soluções simples a para este problema bem complexo. Por múltiplas razões, o país não tem sido capaz de proteger e valorizar de forma eficaz o enorme potencial da sua riqueza florestal. Sendo esta uma matéria de natureza estrutural, que atravessa sucessivos governos, a mesma pode e deve ser debatida de forma alargada e consensual, sem contaminação de natureza partidária. A reorganização, exploração e proteção do património florestal devem ser alvo de um consenso alargado, por forma a minimizar o número e os impactos de situações como as que temos vivido de forma intermitente. As alterações climáticas e os seus impactos tornam esta opção estratégica ainda mais urgente.
Pese a ausência coletiva dessa perceção, as empresas da fileira florestal investem muito em conhecimento e desenvolvimento tecnológico, num setor que vai muito para além da simples gestão do parque arbóreo. Com fortes dificuldades em contratar recursos humanos qualificados, porque os nossos jovens não se motivam a estudar num domínio que lhes mostramos a arder todos os anos.
Este é outro problema que temos de desmistificar, porque há muito futuro neste setor. Por isso, nos momentos difíceis, não só não podemos desistir, como temos de ter a capacidade de saber olhar em frente.