Ao PSD chegou um novo líder. Não vem dos baronatos, não tem o apoio dos "velhos" do partido, mas os primeiros actos põem-no no bom caminho, mostram que pode chegar lá, pelos seus méritos e dos que o acompanham.
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Quanto tempo aguenta um partido do arco do poder, como o PSD, fora do Governo? - Não sabemos. O PSD, nos últimos 15 anos, somou três de Governo. E se as sondagens vão indicando que José Sócrates resiste a todos, e a tudo o que sobre ele tem sido dito, há quem pense que isso se deve também à ausência de alternativa credível.
Ao PSD chegou um novo líder. Não vem dos baronatos, não tem o apoio dos "velhos" do partido, mas os primeiros actos põem-no no bom caminho, mostramque pode chegar lá - "lá" é o lugar de primeiro-ministro - pelos seus méritos e dos que o acompanham, e não apenas porque o seu adversário vai perdendo fôlego. Há perguntas a que ninguém responde, mas não deixa de apetecer interrogar o que pensarão dos primeiros dias do novo líder Manuela Ferreira Leite e os seus ideólogos - por exemplo Pacheco Pereira, que tanto a apoiou e que, ontem, curiosamente, no "Público", deixava de lado a luta política e escrevia sobre a luta dos mineiros de Neves Corvo? Que pensarão ambos de uma liderança não "abençoada" pela elite social-democrata, pelo contrário fincada na parte do aparelho partidário que até aqui apenas desempenhava o papel de apoiante (isto é, que trabalha) e nunca era realmente chamada para a mesa do poder? Como olharão para um líder que, pela lei das probabilidades, estará mais perto do poder do que os seus antecessores e que, para além disso, embora parecendo não saber de finanças, parece claramente mais bem preparado para levar o partido a uma vitória eleitoral que lhe devolva o governo do país?
A promessa de unidade no partido não é, para já, mais do que isso. Mas tem força para andar, porque houve um líder que a soube propor e candidatos derrotados que a souberam aceitar, demonstrando uns e outros a humildade que tantas vezes foi faltando aos anteriores bem pensantes dirigentes partidários, sempre apostados em derrubar quem estava na liderança. Passos Coelho teve até o cuidado de explicar - quase com a inocência de uma filosofia chinesa - que a unidade tem de se ir regando. O novo líder tem de cuidar dessa unidade e tem de cuidar sobretudo da pressa que se pressente de o partido chegar ao poder. Confirmar essa unidade e apresentar políticas alternativas ao PS é o que se impõe ao PSD antes de se considerar pronto para ir às urnas.
Sócrates tem agora um adversário forte, capaz de chegar ao poder. O Parlamento vai ser o palco de aproximações e clivagens que permitirão ler o futuro. Quererão PP e PSD aproximar-se, mesmo antes de uma disputa eleitoral? Conseguirá o PS manter o centrão? Irá o novo PSD alinhar em alianças com a esquerda parlamentar? Quem esticará a corda? Algum dos partidos estará interessado em provocar eleições antes das presidenciais? Mas a pergunta chave é mesmo esta: saberá o PSD não ter pressa?
Passos Coelho tem o handicap de não estar no Parlamento, graças ao conceito vingativo com que Manuela Ferreira Leite fez as listas de deputados. O seu combate com Sócrates far-se-á por interposta pessoa e, por via indirecta, nas intervenções que o novo líder for tendo publicamente. É mais um teste à calma do novo líder, saber se aguentará não forçar mais cedo do que parece devido o combate nas urnas. Uma única coisa é certa: com a possibilidade de ser dissolvido o Parlamento e com nova liderança no PSD, a política portuguesa entra numa nova fase.