<p>O Eurostat, entidade que gere as estatísticas do espaço da União Europeia (UE), divulgou ontem a taxa de desemprego da Zona Euro (composta por 16 dos 27 países da UE): 9,9 por cento, pelo terceiro mês consecutivo. Portugal não teve a mesma sorte: a taxa sofreu nova subida, agora para os 10,5 por cento. O nosso país tem agora a sexta taxa de desemprego mais alta da UE. Se fizermos uma comparação com o mesmo mês do ano passado, verificamos que, no espaço de doze meses, a taxa deu um pulo de dois pontos percentuais. </p>
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Não são números que nos possam orgulhar, mas também não nos devem espantar. Os parcos sinais de recuperação da nossa economia, tão insistentemente propalados pelo primeiro-ministro, estão muito longe de ajudar a inverter a tendência da falta de emprego. É, aliás, sabido que a revitalização da economia não corre a par com a criação efectiva de postos de trabalho - existe sempre um espaço de seis a nove meses entre as duas realidades.
Há outros fenómenos relevantes que entretanto aparecem, como aquele revelado na edição de ontem do JN: metade dos pedidos antecipados de reforma foram feitos, em 2009, por desempregados. É gente que perdeu toda a esperança em encontrar trabalho...
Por que razão são, afinal, importantes os novos números do desemprego? Porque eles surgem no início de uma semana que ameaça ser difícil para o Governo. Além da greve geral da Função Pública marcada para depois de amanhã, que pode servir de barómetro ao mal-estar neste sector nevrálgico da economia portuguesa, é provável que o Governo apresente, ainda esta semana, o famoso Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC). Pelo que se vai sabendo às pinguinhas, o documento promete ser durinho: o Executivo será obrigado a explicar como pretende poupar qualquer coisa como 1300 milhões de euros por ano, de modo a chegar a 2013 com o défice das contas públicas controlado. E, por mais paradoxal que isto possa parecer a quem sofre com a crise instalada, é bom que seja durinho. Justo, o mais possível. Mas durinho.
O caminho que temos pela frente não tem vielas que permitam escapar, nem rotundas que admitam inverter o sentido da marcha. O congelamento dos salários dos funcionários públicos, a limitação ao endividamento das empresas estatais e a eventual redução de benefícios fiscais são apenas três pequenos exemplos do aperto que aí vem. Se olharmos para o que fizeram a Grécia e a Irlanda perceberemos melhor o que aí vem.
Verdade que estamos todos fartos de ouvir a palavra sacrifício. Infelizmente, nos próximos anos ela repetir-se-á vezes incontáveis. É maldição? Não. Há culpados. Mas persegui-los pouco importa. O tempo é de assumir o desafio, com a consciência clara de que, se as coisas não endireitarem a bem, terão que endireitar a mal. Isto é: se não fizermos o nosso trabalho, alguém há-de obrigar-nos a fazê-lo. Provavelmente com mais custos e mais dor.