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1 - Há estudos na área da psicologia social que defendem que a primeira impressão (sobre alguém ou sobre algo) é a que fica. Há mesmo quem diga que a impressão é construída pelo cérebro em menos tempo do que o necessário para uma piscadela de olho. Com essa máxima presente, o deputado socialista João Galamba apressou-se a fazer uma primeira leitura, entusiástica, do plano de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos. Antes que tivéssemos tempo de piscar os olhos, já o deputado anunciava a "grande conquista do Governo" e a "excelente notícia" para o país: porque a CGD se transforma num "banco sólido" e "100% público"; e porque se evita o agravamento do défice público e o respetivo castigo da União Europeia. Tudo boas notícias? Também há psicólogos que, sem contestar a validade e a velocidade da primeira impressão (sobre alguém ou sobre algo), lembram que há a possibilidade de uma segunda impressão se sobrepor à primeira. No caso, é aconselhável fazer esse esforço. Acrescentando que está em causa uma injeção de capital que pode chegar aos 5160 milhões de euros, o que corresponde a quase 3% da riqueza do país (Produto Interno Bruto). Depois, que o Estado vai precisar de pedir muito dinheiro emprestado e que os fiadores são os portugueses. No âmbito desta "grande conquista do Governo", os portugueses podem já dar como perdidos os 960 milhões de euros emprestados através daquele mecanismo financeiro de odor suspeito (CoCos), ou seja, despedirmo-nos, cada um de nós, de 96 euros. E somar-lhe 2700 milhões de euros de dinheiro fresco que vai engordar os cofres da CGD, a troco da promessa de lucros futuros. Ou seja, mais uma fatura de 270 euros por português. Como diz Galamba, uma "excelente notícia".
2 - Há uma outra máxima que diz que uma má notícia nunca vem só. Mas esta não mete psicologia. Antes o facto de Portugal se parecer cada vez mais com um país inviável, olhe-se a partir da Esquerda ou da Direita. A notícia má que acompanha, esta semana, a da fatura da CGD, é a do agravamento imparável da dívida pública. Com austeridade máxima (PSD/CDS) ou mínima (PS/BE/PCP), com desemprego a subir ou a baixar, com maior ou menor crescimento, estamos cada vez mais endividados. Quer se manipule esse complexo indicador que nos diz que a dívida já vai em 131,6% do Produto Interno Bruto, quer se olhe para essa cifra incompreensível de 240 mil milhões de euros. Talvez seja mais próximo do nosso entendimento dizer que cada português é responsável por 24 mil euros dessa dívida pública e que, nos últimos seis meses, a conta se agravou em 867 euros por cabeça. E já agora lembrar que esta responsabilização individual não é mera retórica. Tal como no caso da CGD, os fiadores somos nós. Podemos assobiar para o lado (e assobiamos), mas a dívida é nossa. E quando nos pedirem para pagar, vai doer.