Marta Temido informou não ter condições para continuar o seu mandato, o que muitos associaram ao que se tem passado com o encerramento dos serviços de urgência de Obstetrícia e à falta de médicos nas escalas do Serviço Nacional de Saúde. O trágico falecimento de uma grávida terá sido a gota de água, num aparente burnout da ministra da Saúde.
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O que tem acontecido no nosso país, em políticas de saúde, denota que o Governo abre a boca anunciando investimentos de milhões e continua a descurar a importância da resposta individualizada, procurando manter-se na implementação do modelo "mais do mesmo", sem inovação e sem solução. Veja-se a resistência em criar unidades de cuidados na maternidade como um local onde mulheres saudáveis, com gravidezes de baixo risco, com parto e pós-parto sem complicações, são cuidadas por enfermeiros especialistas em saúde materna e obstétrica.
Sai a ministra, muda a política? A nova pessoa no cargo conhecerá o contexto das necessidades estruturais de uma política de saúde preventiva e de proximidade, conhecerá aquilo que preocupa os utentes que necessitam de cuidados de saúde, que esperam e desesperam pelas consultas e tratamentos, conhecerá aquilo que preocupa os profissionais de saúde e as suas justas reivindicações? Portanto, ou garante junto do Governo que vai ter condições para negociar com os profissionais de saúde uma dedicação exclusiva ao SNS, a revisão das tabelas salariais, a reposição e progressão na carreira (por exemplo, dos técnicos auxiliares de saúde). Caso contrário, o Governo irá continuar:
- a apostar em pagar muito mais para cobrir as necessidades permanentes, sem resolver estruturalmente o problema da falta de profissionais de saúde no SNS;
- a falar em muitas contratações, mas a contratar num ano quatro vezes a mesma pessoa;
- a ter um Plano Nacional de Saúde Mental, mas cuja resposta de saúde psicológica carece de aposta em profissionais em número suficiente em contextos de saúde, educação, ensino superior;
- a assentar no mote "não olhes para o que eu faço, olha para o digo".
*Dirigente do PAN