O "colinho" que António Costa ofereceu a Marcelo no caso das denúncias dos abusos e o aparente lançamento de Passos Coelho a presidente ensaiado pelo atual inquilino de Belém podem ser filhos da mesma nova política da sopa. A vichyssoise está de regresso à política portuguesa.
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Pertence aos anais da nossa politiquice caseira a famosa história da vichyssoise, a sopa que Marcelo teria comido num suposto jantar, que teria acontecido (mas não aconteceu) e que serviu para passar a Paulo Portas, então diretor do "Independente", uma informação enganosa.
É recorrendo a esta memória que eu chamo política da sopa aquela atividade composta por atos em que os políticos parecem querer uma coisa, mas afinal querem outra. Desmentindo aquela também antiga tese de que em política tudo o que parece é.
Ora vejamos. No caso da gigantesca polémica em que o presidente Marcelo se enfiou quando achou por bem dizer que achava pouco só existirem 424 casos de abuso sexual de menores praticados por membros do Clero português, é sabido que só o primeiro-ministro é que lhe deu "colinho", defendendo-o contra todos os ataques generalizados sofridos por Marcelo.
No rescaldo dessa semana "horribilis" em que o presidente da República, depois de achar muito 50 BMW para a TAP, achou pouco os 424 casos de abuso denunciados, incluo-me naqueles que consideram que as declarações de António Costa, parecendo querer ajudar Marcelo, na verdade foram um presente envenenado.
Já no caso das declarações posteriores de Marcelo evocando extemporaneamente Pedro Passos Coelho como "senhor primeiro-ministro", que foram vistas por muita gente como parecendo ser o pontapé de saída para a candidatura presencial do antigo líder do PSD, volto a ser de opinião de que a coisa também não será o que parece.
A esta distância das próximas presidenciais e lembrando-me eu da total falta de carinho e empatia entre estes dois políticos (que atingiu o auge exatamente quando Marcelo se começava a chegar à frente para ser presidente), custa-me muito acreditar no que ouvi. Bem pelo contrário, julgo que este facto político "inventado" pelo presidente só servirá dois objetivos: tentar desviar as atenções da polémica dos 424 abusos e aproveitar para tentar "queimar" quaisquer hipóteses que Passos Coelho alimentasse de vir a ser candidato a Belém.
*Empresário