Corpo do artigo
Está difícil acompanhar a atualidade e se, habitualmente, temos um grande assunto que toma conta de todos os noticiários e cronistas, neste momento, há demasiadas coisas importantes a acontecer, numa espiral de informação difícil de acompanhar. De tal forma que não é possível fincar os dentes num grande tema e não o largar até ao esvaziamento total, com infinitos diretos à porta de coisa nenhuma, mesas-redondas de conversa circular, especulação com especialistas-em-tudo e o bom e velho enchimento de chouriço. Estamos em semana de tudo-em-todo-o-lado-ao-mesmo-tempo e não é possível dar atenção exclusiva a caso nenhum, para sorte daqueles que passam pelos pingos da chuva, como o ator Carloto Cotta (que noutra altura estaria a ser fortemente cancelado por suspeitas de violência sexual).
Tivemos o encontro de Zelensky com a fome e a vontade de comer dos Rufias Unidos da América, que fizeram escalar a conversa para o conflito, intimidando e provocando o presidente ucraniano propositadamente. Depois de apelidá-lo de ditador (poupando Putin do mesmo epíteto), queriam agora que ele assentisse, enquanto papagueavam a narrativa russa, aceitasse a paz em forma de capitulação total, lhes oferecesse de bandeja as terras raras e ainda agradecesse no fim. Numa tosca estratégia de vilanização do ucraniano, para disfarçar a sua vassalagem a Putin.
Enquanto isso, tivemos Macron em Lisboa, Macron no Porto e Macron já no Reino Unido, numa lufa-lufa para arranjar solução para a guerra da Ucrânia, ao mesmo tempo que os líderes mundiais se posicionavam a respeito e o dirigente-fantoche da NATO assumia as falsas dores de Trump. Tudo enquanto o Papa Francisco melhorava e piorava novamente o seu estado de saúde, que apesar de muito delicado, fica para segundo plano, perante o agudizar das doenças da civilização.
Em Portugal, o esterco também parece ter atingido a ventoinha, com o escândalo das avenças de empresas privadas ao negócio familiar do primeiro-ministro que, fingindo-se ofendido, vai dando explicações em doses homeopáticas à medida em que lhe destapam a careca. Agindo sempre como se soubesse que era dúbia a moralidade da situação (passando a quota para a mulher e agora para os filhos), reafirmou a tranquilidade da sua consciência, quando chamado a explicar-se. E tendo o cinismo de evocar o orgulho mútuo entre progenitores e rebentos (a quem passa a empresa, como se fizesse alguma diferença moral), não só não assumiu responsabilidades, como ainda chantageou a oposição.
Por cima desta salada de caos, temos o Carnaval, o Festival da Canção, a noite dos Oscars e metade do Instagram a fazer turismo nos bloquinhos do Rio de Janeiro. Não os censuro, se é para viver o caos, que seja cantando e dançando para expiar as preocupações.