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Os políticos ganham muito ou pouco para aquilo que fazem? A questão nunca será consensual. O motivo é simples: há uma indubitável dificuldade de estabelecer métricas inatacáveis para medir a justeza remuneratória, seja para governantes ou para membros de um qualquer órgão das administrações públicas.
Em grande parte dos organismos do Estado, a produtividade e os resultados não são controlados com a eficácia mais típica do privado e, na realidade, algumas iniciativas governamentais só produzem os seus efeitos no médio ou longo prazos. A decisão de conceder aumentos substanciais a uma determinada classe profissional será suficiente para progressivamente atrair mais quadros onde há carência de profissionais? A aplicação de fundos europeus no projeto A ou B trará mais riqueza e emprego?
Muitos dos nossos deputados, por exemplo, ganharão muito pouco em função do que trabalham e outros tantos mereceriam o dobro ou o triplo. Salários, justos ou injustos, tal como os chapéus, há muitos (...), como dizia Vasco Santana no filme “Canção de Lisboa”.
Num artigo publicado em 2024, intitulado “A nova política económica para a definição de salários no setor público na Europa”, da “Revista Europeia de Relações Laborais”, Portugal surge como fazendo parte de um regime tipicamente mediterrânico de crescimento das remunerações liderado pela procura, a par de França, Itália e Espanha. Neste regime, o emprego público é substancial e o motor económico funciona à base do consumo das famílias. Na Alemanha, por exemplo, as políticas salariais são condicionadas pelo valor acrescentado das exportações, sendo que nos nórdicos subsiste um regime misto (consumo e exportações).