Ocorreu por estes dias o cinquentenário da morte do antigo presidente do Conselho Oliveira Salazar. Convém recordá-lo brevemente. Ministro das Finanças, em 1928, equaciona imediatamente "os problemas" do país numa "ordem" que ficará célebre: o financeiro, o económico, o social e o político.
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Sobre o último: "é impossível admitir que este país arraste uma existência miserável entre dois únicos governos - demagogia e ditadura mais ou menos parlamentar". Estava retoricamente criado o Estado Novo da futura Constituição de 1933 e do presidente Salazar. A situação internacional, a autoridade indisputável e a contenção policial do protesto dão a Salazar condições para exercer um poder não escrutinado que gerava confiança e apoio seguros na sociedade civil e militar. As "circunstâncias ocorrentes" determinam que acumule a pasta da Guerra e, subsequentemente, a dos Negócios Estrangeiros, que dirigiu até 1947. Garantiu a sobrevivência nacional, "cobrindo" diplomaticamente as duas fronteiras. A marítima, pelo reforço da Aliança Inglesa, e a terrestre, pelo Pacto Ibérico de 1939 assinado com o regime de Franco. "Não queremos eximir-nos a confirmar em momento tão grave a aliança inglesa", escrevia Salazar numa nota oficiosa de Setembro de 1939. Após a invasão da Polónia pelas tropas nazis, dirigiu uma palavra de "funda simpatia à nação polaca, à qual queremos prestar a homenagem devida ao seu heróico sacrifício e ao seu patriotismo". Cede a base aérea dos Açores aos aliados em 1943. A conjuntura internacional do final da guerra é-lhe desfavorável. Face à insuficiência diplomática da Aliança Inglesa, Portugal adere à NATO. A questão ultramarina leva Salazar de volta à pasta da Defesa em 1961. Transforma o Ultramar num objectivo vital para a viabilidade da nação, descurando tudo o mais, nomeadamente o social e o "progresso". Era aí que estava quando o acidente no Forte de Santo António o surpreendeu aos primeiros dias de Agosto de 1968. O século XX foi o século de Salazar, como escreveu Jaime Nogueira Pinto. Num Agosto, mas de 1963, afirmou, ao terminar um discurso sobre política ultramarina, que "havemos de chorar os mortos se os vivos os não merecerem".
Cinquenta anos depois, Portugal é formalmente uma democracia, coisa que ele sempre repudiou e evitou. A sua personalidade forte confundiu-se com um regime. Sem ele, esse regime estava condenado a desaparecer em meia dúzia de anos. Nem mais, nem menos.
O autor escreve segundo a antiga ortografia
*Jurista