<p>Contou Defensor Moura, na TV, que Belém lhe impingiu, para uns festejos, a contratação de uma fadista que fora mandatária juvenil de Cavaco Silva e lhe exigiu mais uns pesados custos decorativos. Que foi ele fazer! Aferrou-se-lhe logo à canela uma matilha de comentadores cínicos - cinismo deriva de cão, como se sabe - que, com rosnadelas e ladraduras, tentou silenciar o homem, apoucando-lhe a crítica: a coisa era muito local - onde fica, ao certo, Viana do Castelo? - não se percebeu nada, passe-se adiante.</p>
Corpo do artigo
Actuou de novo a redoma institucional que se apressa em blindar Cavaco Silva com um axioma de virginal rectidão em tudo o que diz, faz, não diz ou não faz. O próprio manda quem o questione nascer duas vezes - nem aquele que ressuscitou ao terceiro dia se qualifica, pelos vistos!
A verdade é que Defensor Moura destapou uma certa pitada a perdiz neste episódio. Existe uma senhora que canta fados e que, na sua inteira liberdade, decidiu apoiar a candidatura de Cavaco a Belém há cinco anos. Nada a dizer, gostos não se discutem.
Cavaco fê-la mandatária juvenil da sua candidatura. 'Nihil obstat.' Os candidatos escolhem mandatários, numa troca de honrarias: sente-se incensado o representado, ungido se sente o mandatado. É bonito.
Mas esta doce sinfonia de elegâncias e reverências é desafinada pelos ferrinhos do tinir de maravedis e dobrões que, neste caso, se ouve, quando se abre a celebérrima «página oficial» de Sua Excelência na Internet. Digitando o nome da fadista, ele aparece-nos DEZ vezes em outros tantos concertos «oferecidos» pela Presidência, na Índia, na Turquia, ou mesmo no sabe-se lá onde é Viana do Castelo!
A entusiasmada mandatária juvenil é, agora, paga pela Presidência para encantar convivas com a sua bonita voz e assustá-los com o seu desmedido contorcionismo de esgares de parto (é a minha opinião, a que também tenho direito!).
O assim-chamado «presidente de todos os portugueses» não é, pelo menos, de «todos os fadistas»: tem a sua favorita, a sua Salomé que, não recebendo cabeças em bandeja, se contenta com um simpático cheque.
Maravilhoso exemplo para a juventude sonhadora e idealista: apoia aquele, que ficas logo a ganhar! Faz pela vida, pá! É o toque de Midas de Cavaco: apareça quem tenha ficado mais pobre depois de o ter servido.
Nascer duas vezes... Vamos a isso! Não é tarde para integrarmos uma promissora Jota Cavaquista, que vêm aí mais cinco anos de prebendas. Nasçamos segunda vez para este horizonte de tilintante venalidade!