Somos os maiores, somos uma nódoa. Estamos livres, vamos confinar. Os casos estão a baixar, os casos estão a duplicar. A vacina é decisiva. Vai ser precisa uma terceira dose. A nossa vida vai voltar ao normal. Afinal, o pesadelo não acabou...
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Não nos livramos disto. A tragédia dá lugar ao júbilo e este parece dar sempre lugar à tragédia. Cansa. A lengalenga da covid é um tema fascinante para os estudiosos das Ciências Comportamentais, mas só. A esquizofrenia que tomou conta do país à medida que a reunião do Infarmed se ia aproximando é um triste sintoma de que, em matéria de comunicação e gestão de expectativas, aprendemos pouco com o passado. De nada nos valem os estados de alma ou os achismos de quem nos governa. Guardem-nos numa gaveta. Devemos agarrar-nos aos factos e à ciência. E, nesse particular, a sessão de ontem no Infarmed foi particularmente relevante no contributo dado para a desconstrução de medos importados, teorias mirabolantes e demais excentricidades de quem, em plena quinta vaga, ainda acredita que as vacinas são um inimigo e não um aliado. Só que os números não mentem: o risco de morte é hoje quatro vezes inferior; a doença é três vezes menos agressiva; e, desde maio, a adesão massiva da população portuguesa à vacinação permitiu poupar 2300 vidas e evitar 200 mil novas infeções. Devemos baixar a guarda e dançar o kumbaya? Não. Mas é confrangedor que haja quem não meta isto na cabeça.
Uma parte considerável da mitigação dos danos continuará a depender de nós, por mais restrições que nos proponham. A grande responsabilidade do Estado será a de reforçar os meios, demonstrando que a máquina está preparada para a atualização vacinal da população acima dos 65 anos até ao final do ano, sem a qual não se evitará uma pressão ingerível no Serviço Nacional de Saúde. Até lá, serenidade e cautelas.
Diretor-executivo